Problemas no lançamento: quando e por que um foguete pode ser derrubado por segurança; veja infográfico

Published 2 hours ago
Source: g1.globo.com
Problemas no lançamento: quando e por que um foguete pode ser derrubado por segurança; veja infográfico

Nova imagem mostra explosão do 1º foguete comercial lançado do Brasil A explosão do foguete sul-coreano Hanbit-Nano, da empresa Innospace, logo após o lançamento no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, levantou dúvidas sobre o que pode ter acontecido durante a missão. A empresa informou apenas que foi identificada uma “anomalia”, sem detalhar se o evento foi acidental ou provocado por protocolos de segurança. 📲 Clique aqui e se inscreva no canal do g1 Maranhão no WhatsApp No setor aeroespacial, no entanto, explosões logo após o lançamento nem sempre significam uma falha inesperada. Em muitos casos, elas fazem parte de procedimentos de segurança previstos desde o projeto do foguete, especialmente em veículos novos e em voos de teste. Veja o que se sabe sobre situações que podem levar a esse tipo de ocorrência. No caso em Alcântara, a empresa já informou que a explosão não provocou vítimas e que projeta outros lançamentos já em 2026. Foguete HANBIT-nano explodiu após ser lançado na Base de Alcântara, no Maranhão Reprodução/InnoSpace/Pedro Pallotta/Space Orbit 1. O que é o “envelope de voo seguro” Segundo o coordenador do programa de pós-graduação Aeroespacial da UEMA, Fernando Moucherek, os lançamentos de foguetes sempre são pensados de forma a não haver riscos à população em solo, caso o voo não saia como planejado. Na prática, todo lançamento de foguete segue um caminho chamado de “envelope de voo seguro”, que funciona como um corredor imaginário no espaço aéreo. Se o foguete sair dessa rota imaginária, significa que há riscos de possíveis destroços caírem em áreas povoadas, o que automaticamente levará à explosão do foguete, por questões de segurança. "Essa análise envolve a consideração de diversos fatores, tais como velocidade, altitude, ângulo de ataque, a carga útil transportada e os estágios de propulsão. Adicionalmente, a temperatura em cada fase do lançamento e os sistemas de controle térmico são elementos essenciais. A combinação desses fatores é imprescindível para um voo seguro, minimizando o risco de falhas estruturais ou perda de controle. Em situações em que esses parâmetros críticos não são atingidos, a destruição da aeronave é considerada como medida de segurança", explica Fernando Moucherek, coordenador do programa de pós-graduação em Engenharia Aeroespacial da Universidade Estadual do Maranhão. O "envelope do voo seguro" é definido antes do lançamento e é um conceito adotado por agências como a NASA, estabelecendo: a trajetória considerada segura; os limites de velocidade, inclinação e estabilidade; as áreas onde destroços poderiam cair sem risco à população. 2. Quando um lançamento pode ser abortado Problemas no lançamento: quando e por que um foguete pode ser derrubado por segurança; veja infográfico Arte/ g1 O aborto de um lançamento pode ocorrer em diferentes fases do voo — e quanto mais cedo, mais seguro. Antes da decolagem Ainda na contagem regressiva, sensores podem identificar falhas em sistemas de propulsão, pressurização ou navegação, levando ao cancelamento automático. Segundos após a decolagem Os primeiros 30 segundos de voo já são críticos e qualquer instabilidade nessa fase pode justificar o aborto. Nesse intervalo, o foguete pode: atingir velocidades próximas ou superiores a Mach 1 (a velocidade do som); alcançar altitudes entre 5 km e 15 km; sofrer impactos aerodinâmicos relevantes. Durante o primeiro estágio Primeiro foguete comercial lançado no Brasil explode após a decolagem O período mais sensível do voo é o chamado Max Q, ponto de maior pressão aerodinâmica sobre o foguete. Ele costuma ocorrer entre 50 e 90 segundos após a decolagem, mas esse intervalo não é fixo — varia conforme: aceleração do veículo; densidade do ar; perfil de subida. Segundo a NASA, falhas estruturais, vibrações excessivas ou perda de controle nesse momento exigem decisão rápida. Após o primeiro estágio Abortos depois dessa fase são mais raros, pois o foguete já está fora das camadas mais densas da atmosfera e longe de áreas povoadas. 3. Quem decide abortar uma missão O aborto pode ser acionado de três formas: Automaticamente, por sistemas de bordo programados para reagir a parâmetros fora do normal; Pelo centro de controle em solo, ao detectar riscos à segurança; Por um oficial de segurança de voo, que tem a função de proteger áreas habitadas. No Brasil, segundo a Força Aérea Brasileira, “a prevenção de acidentes aeronáuticos é da responsabilidade de todas as pessoas, naturais ou jurídicas, envolvidas com a fabricação, manutenção, operação e circulação de aeronaves, bem como com as atividades de apoio da infraestrutura aeronáutica no território brasileiro”. Na prática, um oficial da Aeronáutica especializado pode comandar as decisões. Em muitos casos, o sistema de destruição é automático, sem interferência humana direta, para garantir reação em frações de segundo. 4. O que acontece quando o aborto é acionado Quando o aborto é confirmado, entra em ação o chamado Sistema de Terminação de Voo (FTS), adotado por foguetes da NASA, da SpaceX, da Arianespace e de outras operadoras. Esse sistema: desliga os motores; rompe tanques de combustível de forma controlada; provoca a desintegração do foguete no ar. O objetivo não é “explodir”, mas eliminar o empuxo e impedir que o veículo continue avançando fora do envelope seguro. O resultado visual, porém, costuma ser uma grande explosão. 5. Por que isso é comum em foguetes novos Especialistas destacam que os primeiros voos de um foguete são, essencialmente, testes. É nessa fase que normalmente acontecem as: Validações dos sistemas em voo real; Comparações dos modelos computacionais com dados reais; Provas dos sensores, válvulas e softwares Para o especialista em Engenharia, Antonio Oliveira, explosões também são comuns em foguetes de empresas experientes, já que muitos fatores podem surpreender as equipes de lançamento. "Isso é comum e também não quer dizer que não aconteçam sinistros em foguetes certificados", declara Antonio, que também é professor de Física na Universidade Federal do Maranhão. A própria NASA afirma, em documentos técnicos, que abortos fazem parte natural do processo de desenvolvimento. Programas consagrados, como o o Saturn V (missões Apollo), Falcon 9 (SpaceX) e Ariane 5 (Europa) tiveram falhas graves nos primeiros voos, incluindo explosões, antes de se tornarem confiáveis. ‘Chance de êxito no primeiro tiro é baixa’, diz professor sobre foguete que explodiu no MA Foguete Starship da SpaceX explode após lançamento Em 2023, a Starship, nave da SpaceX , explodiu depois de sair da base em Boca Chica, no estado americano do Texas (veja vídeo acima). Não havia tripulação neste voo de teste e a missão terminou com o veículo explodindo no céu após cerca de quatro minutos da decolagem. Na época, o bilionário Elon Musk, dono da SpaceX , e os funcionários da empresa comemoraram por atingir o objetivo principal que seria tirar a espaçonave do solo, segundo a agência Reuters. "Aprendi muito para o próximo lançamento de teste em alguns meses", disse Musk. No caso de Alcântara, o CEO da InnoSpace, Kim Soo-jong, pediu desculpas pela falha no lançamento, mas também comemorou a coleta de muitos dados de voo que irão colaborar para o sucesso em novas tentativas. CEO da InnoSpace, Kim Soo-jong Reprodução/DongA Science 6. Como e por que pode ter acontecido a explosão em Alcântara No caso do Hanbit-Nano, a Innospace informou apenas a ocorrência de uma “anomalia”, sem confirmar se houve falha estrutural, perda de controle ou acionamento do sistema de segurança. Até o momento, sabe-se apenas que a anomalia ocorreu após a fase inicial da decolagem, quando o foguete já havia superado etapas como o rompimento da barreira do som (Mach 1) e se aproximava da fase de maior estresse aerodinâmico (MAX Q). À luz dos protocolos internacionais, especialistas apontam que há três hipóteses principais, que não são excludentes: desvio do envelope de voo seguro, levando ao acionamento automático do sistema de terminação; anomalia durante o primeiro estágio, possivelmente em fase próxima ao Max Q; falha detectada pelos sensores, com aborto preventivo para evitar risco ao solo. Até a conclusão da investigação técnica — que envolve análise de telemetria, imagens e dados de bordo — não é possível afirmar se a explosão foi acidental ou deliberada. Veja também: O que se sabe e o que falta saber sobre a explosão do foguete A Força Aérea Brasileira (FAB) já informou que a investigação está acontecendo, em conjunto com a InnoSpace. Equipes técnicas analisam os dados de voo e os destroços para identificar as causas da anomalia. Como é o foguete HANBIT-Nano. Arte/g1

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