Nova espécie de joaninha é descrita na fauna da Caatinga

Published 4 hours ago
Source: g1.globo.com
Nova espécie de joaninha é descrita na fauna da Caatinga

Nova espécie descoberta na Caatinga Gabriel Celante Pesquisadores do Cemafauna (Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga) anunciaram, no último dia 5 de dezembro, a descoberta de uma nova espécie de joaninha herbívora, batizada de Mada gregaria. O estudo, publicado no periódico internacional Annales de la Société entomologique de France, traz informações inéditas sobre a biodiversidade da Caatinga e reforça a importância da pesquisa científica para ampliar o conhecimento sobre os insetos que habitam o semiárido brasileiro. O estudo, que teve a participação do professor Benoit Jean Bernard Jahyny, coordenador do laboratório, e de diversos coautores, revela que Mada gregaria é a primeira espécie do gênero Mada com ocorrência confirmada no Domínio Caatinga. O inseto foi identificado em áreas de dunas nos municípios de Casa Nova e Pilão Arcado, no norte da Bahia. Esses ambientes, conhecidos como Dunas do São Francisco, formam ecossistemas de Caatinga arenosa marcados por ilhas de vegetação no meio da areia. “As dunas interiores da Caatinga são tradicionalmente pouco amostradas e de difícil acesso, o que retarda descobertas. A espécie tem coloração uniforme (amarela/castanho), sem as pintas típicas das joaninhas, o que pode dificultar a identificação, por não serem como o “estereótipo” mais comum de uma joaninha”, explica a Dra. Paula Batista dos Santos, bióloga e pesquisadora brasileira com destaque na área de entomologia. Caatinga. O inseto foi identificado em áreas de dunas nos municípios de Casa Nova e Pilão Arcado, no norte da Bahia. Gabriel Celante Essa pesquisa, realizada em parceria com o professor Daniel Pifano, curador do Herbário de Referência do Sertão Nordestino (HRSN), e com a gerente de Planejamento e Novos Projetos do Centro de Estudos em Biologia Vegetal (CEBIVE), traz ainda informações inéditas sobre a biologia e o comportamento da nova joaninha. Até então, as interações de joaninhas desta tribo só estavam documentadas para três famílias de plantas: Aristolochiaceae, Cucurbitaceae e Solanaceae. No entanto, essa descoberta revela que a nova espécie utiliza como planta hospedeira a Strychnos rubiginosa (Loganiaceae). Paula aponta que é inédito e relevante porque essa planta possui alcaloides tóxicos. “Isso sugere adaptações fisiológicas e ecológicas da joaninha para lidar com defesas químicas da planta. Vincular uma espécie herbívora a uma planta de Loganiaceae expande o espectro de plantas hospedeiras conhecidas para o grupo, sugerindo flexibilidade evolutiva e potenciais saltos de hospedeiro”, pontua a especialista. “Encontrar uma espécie do gênero Mada pela primeira vez na Caatinga mostra que herbívoros especializados também ocupam ecossistemas áridos brasileiros e que há nichos subestimados nessas paisagens, desafiando a visão de baixa diversidade funcional no bioma”. Em campo, os pesquisadores registraram adultos se alimentando de folhas jovens, a postura de ovos na face inferior das folhas e larvas raspando a superfície foliar logo após a eclosão. Também foi observado um comportamento de agregação entre os adultos, que permaneceram agrupados por até 3 meses, mesmo na ausência de alimento, o que sugere uma estratégia de dormência adaptada às condições ambientais da Caatinga, onde a escassez de recursos é comum em determinados períodos do ano. Pesquisadores em campo Gabriel Celante Paula esclarece que esse comportamento está ligado à escassez de folhas jovens da hospedeira e ao regime de chuvas. “Viver em grupo oferece benefícios significativos, como maior segurança contra predadores (pela detecção precoce de ameaças e defesa coletiva), eficiência na busca por alimentos e facilitação da reprodução. Os grupos permanecem juntos por longos períodos com mínima atividade alimentar, provavelmente em microhabitats protegidos, reduzindo perda hídrica e o risco de predação.” A intensidade e a duração desse agrupamento indicam um comportamento marcante dentro do gênero Mada, ainda pouco documentado. Essas joaninhas ocorrem apenas na América Central e do Sul, com 45 espécies válidas, sendo 26 registradas no Brasil, principalmente na região Norte. No Nordeste, já havia registros de Mada lineatopunctata (Bahia) e Mada gounellei (Pernambuco), mas sem confirmação na Caatinga. Essa descoberta revela que a nova espécie utiliza como planta hospedeira a Strychnos rubiginosa (Loganiaceae). Gabriel Celante Popularmente, as pessoas estão mais familiarizadas com as joaninhas predadoras, aquelas que se alimentam de pulgões, cochonilhas e outros insetos. No entanto, a espécie descoberta na Caatinga é herbívora e tem as plantas como fonte de alimento. A pesquisadora explica que esses animais não atuam como agentes de controle biológico, mas como consumidores primários, integrando as redes tróficas da vegetação nativa. “Joaninhas herbívoras tendem a ter aparato bucal e digestivo, além do comportamento, adaptados ao consumo de tecido vegetal. Acompanham a sazonalidade da planta, diferindo da busca ativa por presas”, afirma Paula. Assim, as joaninhas - sejam predadoras, herbívoras ou fungívoras - são aliadas da agricultura e da conservação ambiental, desempenhando papéis fundamentais no equilíbrio ecológico dos ecossistemas naturais e na sustentabilidade dos sistemas produtivos. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

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