Mãe de vítima de feminicídio funda instituto para acolher mulheres: 'Sentimento que garante minha existência'

Published 6 hours ago
Source: g1.globo.com
Mãe de vítima de feminicídio funda instituto para acolher mulheres: 'Sentimento que garante minha existência'

'Perdão': após perder a filha, mulher transforma dor em apoio a vítimas de violência “Todos os dias mulheres morrem apenas por serem mulheres”. A frase, dita por Alethea Assunção, carrega o peso de uma tragédia que marcou a vida dela e se tornou combustível para uma luta contra a violência de gênero. Em 15 de maio de 2023, a filha de Alethea, a influenciadora digital Micaelly dos Santos Lara, de 19 anos, foi morta pelo ex-namorado, David Aparecido da Silva Alves, de 30, em Hortolândia (SP). O caso foi registrado pela Polícia Civil como feminicídio seguido de suicídio. O crime Segundo boletim de ocorrência, policiais militares foram acionados após denúncia de um veículo ligado e estacionado por muito tempo no bairro Jardim Santa Clara do Lago II. Ao abrirem o carro, encontraram o casal morto, ambos atingidos por disparos de arma de fogo na cabeça. A perícia constatou que a arma estava na mão do homem, que possuía registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). De acordo com Alethea, momentos antes do crime, a filha estava com ela e desceu apenas para buscar o RG. “Ela estava comigo, desceu para pegar o RG da porta de casa e ele saca uma arma e atira na cabeça da minha filha, uma menina linda, só porque ela não quer se relacionar com ele”. Micaelly Lara, de 19 anos, foi morta pelo ex-companheiro, segundo a Polícia Civil Reprodução/Redes sociais Da dor à ação “Foi muito solitário, foi muito doloroso. Ainda nos afeta significativamente, porque quando ele decidiu tirar a vida da minha filha, ele não só tirou a vida dela, ele também prejudicou, destruiu a minha família”, lembra a mãe. Em meio à dor, Alethea decidiu criar o Instituto Micaelly Lara, que atua no acolhimento de mulheres em situação de violência e na prevenção de feminicídios. “Idealizei um instituto que acolhesse mulheres em situações de violência e que enfrentasse essa cultura que matou minha filha”, diz. “Quando eu tive essa compreensão desse propósito e dessa escolha de transformar a minha dor em luta, a minha dor em ação, eu já comecei a elaborar esse perdão, porque eu compreendi que, enquanto instituição, enquanto Instituto Micaelly Lara, porque o Instituto leva o nome da minha filha, a luta não era contra o gênero, contra o homem. É uma cultura”, explica. O instituto atua no acolhimento de mulheres em situação de violência, ajudando-as a retomar o controle das próprias vidas e se tornarem protagonistas das próprias histórias. “E todas as vezes que a gente acolhe uma mulher, que a gente garante que ela não perca a sua vida, como eu perdi a vida da minha filha. Quando a gente vê essas mulheres sendo libertas, retomando o controle das suas vidas, sendo protagonistas das suas próprias histórias, isso me faz bem. É o sentimento que garante até a minha existência”, diz Alethea. Micaelly Lara, de 19 anos, foi atingida por disparos de arma de fogo Reprodução/Redes sociais Perdão não é obrigação, diz psicóloga Questionada sobre o perdão, Alethea é franca. “Para mim, sinceramente, é difícil eu verbalizar. Eu acho que eu tenho dificuldade, acho não, eu tenho dificuldade de dizer 'eu perdoo ele'. Eu não vejo, para mim não faz muito sentido eu falar isso”. “Uma vez que ele não está mais aqui no mesmo espaço-tempo que eu, ele tirou a própria vida dele, mas o que eu posso dizer é que o sentimento que eu sinto hoje, eu não me sinto prejudicada em relação a essa experiência dolorosa”, acrescenta. Para Alethea, o perdão é um processo de libertação emocional. “É você decidir se libertar dessa sobrecarga, dessa dor, desse sentimento de revolta, de rancor, dessa mágoa que nos limita”, defende a fundadora do instituto. Segundo a psicóloga Sabrina Amaral, em situações de violência extrema, o perdão não deve ser tratado como obrigação. “Nesse contexto, subjugar uma mãe ou uma vítima a perdão pode ser até uma forma de retraumatização. […] O caminho da cura, às vezes ele passa por eu conseguir converter essa dor numa energia de ação. E eu usar isso como uma estratégia para não acontecer com outras pessoas. De uma certa maneira, isso é muito reparador”, conclui. Alethea Assunção, presidente e fundadora do Instituto Micaelly Lara Reprodução/EPTV VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas

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