
Veja como foi lançamento do primeiro foguete comercial partindo do Brasil O foguete Hanbit-Nano, da empresa sul-coreana Innospace, sofreu uma falha e se fragmentou em três ou quatro partes. Ele explodiu 30 segundos após a decolagem no Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, no dia 23 de dezembro, encerrando a missão prematuramente. A informação foi dada nessa segunda-feira (29) pela Innospace, que forneceu detalhes sobre a explosão. O lançamento fazia parte da missão Spaceward, o primeiro teste comercial da companhia. Não houve vítimas nem danos ao solo. Segundo a Innospace, o veículo de dois estágios decolou normalmente às 10h13 (horário da Coreia) — 22h13 do dia 22 no Brasil — e iniciou o voo ao longo da trajetória vertical planejada. O motor híbrido de 25 toneladas funcionou bem na fase inicial, registrando um marco mundial: o primeiro voo de um motor híbrido de médio a grande porte. 📲 Clique aqui e se inscreva no canal do g1 Maranhão no WhatsApp Ao atravessar uma camada de nuvens, a comunicação com o solo foi perdida. Logo depois, o foguete apresentou falha, se fragmentou em três ou quatro partes e caiu dentro da área de segurança. O Sistema de Terminação de Voo foi acionado, provocando a explosão controlada no impacto com o solo. A empresa informou que o procedimento seguiu protocolos internacionais acordados com a Força Aérea Brasileira. "Foram confirmados sinais de perda de empuxo do motor do primeiro estágio. Isso resultou na perda de empuxo e de atitude do veículo, que caiu em queda livre na forma do primeiro e segundo estágios e outros pequenos fragmentos. Como o Ponto de Impacto Imediato (PII) estava localizado dentro da zona de segurança do local de lançamento, o Sistema de Terminação de Voo (STF) foi ativado de acordo com os procedimentos previamente negociados com a equipe brasileira de controle de segurança para evitar a fragmentação e a presença de materiais perigosos. Isso resultou na explosão do veículo de lançamento no impacto com o solo, encerrando a missão prematuramente", explicou a empresa. Apesar da falha, a Innospace destacou que conseguiu coletar informações importantes da decolagem e da fase inicial do voo. Parte dos destroços foi recuperada e será usada em análises técnicas. A carga útil e o satélite do cliente estão cobertos por seguro. “A indústria de veículos de lançamento espacial é um campo altamente técnico, onde milhares de variáveis operam simultaneamente em todo o processo, desde o projeto, fabricação, testes em solo e integração, operação de lançamento e voo. Apenas um número limitado de empresas alcançou o estágio de lançamento comercial efetivo. Em particular, o primeiro lançamento comercial é considerado o patamar mais alto, exigindo não apenas perfeição tecnológica, mas também confiabilidade reproduzível e o cumprimento simultâneo de padrões de segurança", afirmou o CEO da Innospace, Kim Soo-jong. A Innospace afirmou, ainda, que iniciou nesta terça uma análise preliminar da causa da interrupção do voo, com base nos instrumentos de voo e nos dados de rastreamento da Força Aérea Brasileira. No entanto, a causa definitiva da falha no lançamento será confirmada por meio de uma investigação e revisão oficiais conduzidas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes de Aviação (CENIPA) da Força Aérea Brasileira. A companhia disse, também, que o episódio não deve afetar contratos futuros. Uma nova tentativa de lançamento do Hanbit-Nano está prevista para o próximo ano, também em Alcântara, em data a ser definida após a conclusão da investigação. “Pedimos sinceras desculpas por não termos conseguido atender às expectativas de nossos clientes que escolheram nosso serviço de lançamento, apesar de ser nosso primeiro lançamento, devido ao encerramento antecipado da missão de lançamento comercial. Estaremos em contato para discutir e oferecer serviços mais confiáveis no futuro. Como acumulamos capacidades de ciclo completo, desde o desenvolvimento, projeto e fabricação do veículo de lançamento, integração em solo, lançamento e operação de voo, por meio deste lançamento, faremos o possível não apenas para aprimorar nossa perfeição tecnológica e confiabilidade com base nos dados de voo adquiridos, mas também para aumentar a probabilidade de lançamentos bem-sucedidos no futuro", declarou o CEO Kim Soo-jong. Saiba mais sobre o lançamento: Primeiro foguete comercial partindo do Brasil é lançado no Maranhão e explode após decolagem CEO de empresa responsável por lançamento pede desculpas VÍDEO: nova imagem mostra momento exato da explosão Foguete que explodiu após lançamento em Alcântara levava satélites e experimentos científicos do Brasil e da Índia ‘Chance de êxito no primeiro tiro é baixa’, diz professor sobre foguete que explodiu no MA Problemas no lançamento: quando e por que um foguete pode ser derrubado por segurança; veja infográfico Há 22 anos, foguete brasileiro explodiu na Base de Alcântara e matou 21 pessoas; relembre Lançamento do foguete Primeiro foguete comercial partindo do Brasil é lançado no Maranhão; transmissão aponta anomalia Reprodução O foguete sul-coreano HANBIT-Nano foi lançado às 22h13 do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Durante a transmissão ao vivo, a equipe responsável exibiu a mensagem “We experienced an anomaly during the flight”, indicando que uma anomalia foi identificada durante o voo. Logo depois, o sinal foi interrompido. (Veja o vídeo do lançamento no início da matéria). O vídeo da transmissão acompanhou a trajetória do foguete por pouco mais de um minuto. Duas câmeras estavam localizadas nos estágios do foguete. Em um momento, o foguete consegue chegar a Mach 1 - que é quando a velocidade de um objeto espacial ultrapassa a velocidade do som. Em seguida, o HANBIT-Nano segue em direção à orbita da Terra, até que chega a MAX Q - que é quando um objeto espacial alcança a maior intensidade da força aerodinâmica até chegar a atmosfera. Logo depois, a transmissão foi cortada pela Innospace, impossibilitando acompanhar o resto do voo. O voo do foguete HANBIT-Nano teve pouco mais de um minuto de duração antes que a transmissão fosse interrompida. Durante esse tempo, foi possível observar o início da jornada espacial, mas logo após, o sinal foi cortado, impossibilitando o acompanhamento do restante do voo. Equipes da Força Aérea Brasileira (FAB) e do Corpo de Bombeiros do CLA foram enviadas ao local para avaliar os destroços e a área da colisão. Os destroços do HANBIT-Nano caíram em uma área que pertence a Basse O voo não era tripulado. O foguete levava a bordo experimentos científicos e dispositivos tecnológicos, que seriam usados em pesquisas desenvolvidas por instituições do Brasil e da Índia. (Entenda mais abaixo) Tamanho do foguete 🚀 Como é o foguete que fará o primeiro voo comercial partindo do Brasil? O HANBIT-Nano tinha 21,9 metros de altura, pesava 20 toneladas e tinha 1,4 metro de diâmetro (veja mais detalhes abaixo). Em sua trajetória até a órbita da Terra, ele pode chegar a 30 mil km/h. Em números simplificados, ele equivale à altura de um prédio de sete andares, pode voar até 30 vezes mais rápido que um avião comercial e tem peso semelhante ao de quatro elefantes africanos. Batizada de Spaceward, a missão envolve um trabalho coordenado pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB). O objetivo era levar ao espaço cinco satélites e três dispositivos que auxiliarão pesquisas em mais de cinco áreas, desenvolvidas por instituições do Brasil e da Índia. Ao g1, a Agência Espacial Brasileira (AEB) informou que a Innospace firmou um acordo de prestação de serviços pelo valor mínimo de retribuição ao Estado com o Governo Brasileiro. Essa modalidade não prevê 'lucro'. Arte: Como é o foguete HANBIT-Nano Arte/g1 Localização 'privilegiada' Construído na década de 1980, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no litoral do Maranhão, conta com atrativos geográficos que fazem a área ser bastante atrativa e cobiçada para o lançamento de dispositivos espaciais. 📌 Dentre os motivos, está a localização próxima à linha do Equador — faz com que os foguetes gastem menos combustível e, com isso, o custo da operação seja menor. Além disso, a área fica próxima a uma ampla extensão do litoral, tem baixa densidade do tráfico aéreo e um amplo leque de inclinações orbitais para os lançamentos. 💨Quanto menor a latitude — sendo zero na Linha do Equador —, melhor é considerado o local para a realização de lançamento de foguetes. A velocidade de rotação de superfície, necessária para colocar o foguete em órbita, é maior quanto mais próximo à linha que divide os hemisférios Norte e Sul. Isso exige menor consumo de combustível da aeronave e menor tempo de viagem à órbita. Arte: Por que Alcântara? Arte/g1 Apesar destas qualidades, a base se tornou por décadas subutilizada. Entre os motivos, estão o grave acidente há mais de 20 anos no local e questões fundiárias. A tragédia interferiu para a consolidação do Brasil no mercado espacial, com redução da atividade em Alcântara a partir de 2003. ➡️ O acidente aconteceu três dias antes do lançamento do foguete VLS-1, protótipo que colocaria em órbita dois satélites nacionais de observação terrestre. A estrutura estava montada e o dispositivo passava por ajustes finais, quando um dos motores teve uma ignição prematura e o protótipo foi acionado antes do tempo. A torre acabou explodindo e 21 civis que trabalhavam no local morreram. Leia também: Maior desastre espacial brasileiro completa 20 anos; veja o que mudou Brasil pede desculpas e reconhece que violou direitos de quilombolas por implantação do Centro de Lançamento de Alcântara Já a questão fundiária levou Alcântara até à cortes internacionais. Os conflitos pela terra com as comunidades quilombolas que viviam na região antes da instalação da base viraram processos judiciais que se arrastaram por décadas.
