Reencontro com o prazer: como o neotantra pode auxiliar a sexualidade na maturidade

Published 2 hours ago
Source: g1.globo.com
Reencontro com o prazer: como o neotantra pode auxiliar a sexualidade na maturidade

O tantra clássico não é, originalmente, uma técnica de massagem – trata-se de uma escola filosófica que teve origem na Índia, aproximadamente no século V d.C., e seu propósito era o autoconhecimento e a iluminação, por meio de rituais, meditação e mantras. Uma de suas contribuições mais relevantes foi romper com o ascetismo, que pregava rejeitar o corpo e o mundo para alcançar o espírito. No entanto, no tantra clássico, a sexualidade era ritualística, com o objetivo de transcender o desejo humano e atingir um estado de união divina. O que a sociedade ocidental abraçou, a partir das décadas de 1960 e 1970, foi o neotrantra. Gurus como Bhagwan Shree Rajneesh, conhecido como Osho, adaptaram os ensinamentos orientais, numa abordagem focada na cura emocional e na liberdade sexual. A terapeuta neotântrica Surya Sangeeta, que, desde 2022, coordena a Communa Metamorfose Divulgação No Brasil, Deva Nishok (cujo nome de nascimento é Tadeu Horta) desenvolveu, na década de 1990, uma metodologia de massagem neotântrica como ferramenta para as pessoas se reconectarem com seus corpos, superando disfunções sexuais e expandindo a capacidade orgástica. Em 2012, fundou a Communa Metamorfose, na Serra da Mantiqueira, em Minas, mas teve que se afastar do dia a dia do espaço – dedicado a cursos de formação e retiros – após denúncias de mulheres que o acusavam de abusos sexuais durante as aulas e sessões. Achei importante contextualizar de forma breve o tantra, o neotantra e a massagem neotântrica porque, independentemente do processo contra Nishok – que corre em segredo de justiça – há muitos bons terapeutas neotântricos que utilizam seu método. Embora a sexologia clínica tradicional opte primariamente pela Terapia Cognitivo-Comportamental, a abordagem neotântrica é reconhecida em teses de psicologia como uma ferramenta complementar para disfunções sexuais de origem emocional. Como estou escrevendo um novo livro, desta vez sobre sexo depois dos 60, cheguei à conclusão de que o assunto merece atenção: pode ser uma forma de enriquecer e revitalizar a vida sexual. Introdução feita, a coluna é resultado de uma conversa on-line com Surya Sangeeta, que, desde 2022, coordena a Communa e os trabalhos lá realizados. Depois de uma trajetória bem-sucedida como executiva, ela sofreu um burnout, passou a estudar terapias integrativas e acabou se tornando também mulher de Nishok. “Eu sofri abusos na infância e isso ficou guardado lá no fundo. Segui anestesiada, conquistando coisas na vida corporativa, mas totalmente desconectada de mim. Pesquisei bastante antes de vir, principalmente por causa do que passei na minha infância. Não chancelaria nada de errado”, afirma. Para quem quiser viver a experiência, além da rede de terapeutas tântricos que atende em consultórios, a Communa oferece imersões de dez dias e oficinas nos fins de semana. Quero saber mais sobre os benefícios da massagem neotântrica para quem é mais velho: quando as mulheres enfrentam a falta de libido e lubrificação; e, os homens, dificuldades de ereção. Quem é maduro se sente à vontade? “Temos participantes até na faixa dos 80 anos. As pessoas estão feridas, desconectadas, não sabem se relacionar. A maioria busca entender por que o sexo foi sempre tão insatisfatório. Com o envelhecimento, há uma camada a mais: a desconexão do corpo, porque ninguém se vê dentro dos padrões do que é considerado atraente, mas essa é uma geração que tem uma capacidade maior de se relacionar. Ao contrário dos jovens, sua referência não se resume a uma tela”, diz Sangeeta. O método neotântrico utiliza tipos específicos de manipulação, todos com o devido consentimento: o processo se inicia de forma a “desgenitalizar” o prazer, isto é, tirar o foco exclusivo dos órgãos genitais e do desempenho. Numa etapa posterior, os toques buscam “regenitalizar” o corpo – depois que a pessoa adquire consciência sobre a importância de outras áreas que não apenas a genitália para chegar ao orgasmo. É essencial destacar que o terapeuta é um facilitador que não tira a roupa, e, em hipótese alguma, há relação sexual. Há quatro níveis na metodologia e o ritmo de experimentação depende da receptividade de cada um: A primeira etapa é chamada de massagem sensitive. Toques feitos com as pontas dos dedos percorrem todo o corpo, exceto os genitais. O objetivo é treinar o cérebro para entender que o prazer pode existir sem a meta do orgasmo imediato. O estágio seguinte combina a massagem sensitive com o toque genital: a yoni massagem, para pessoas que têm vulva; e a lingam massagem, para quem tem pênis. O terapeuta manipula a vulva externa e internamente para liberar memórias de dor ou repressão e despertar regiões “adormecidas”. Já a lingam trabalha pênis, períneo e testículos, provocando picos de prazer sem ejaculação. No terceiro nível, há apenas a manipulação genital, sem a massagem preliminar, o que significa uma sessão de uma hora e meia que pode levar a inúmeros orgasmos. O quarto nível envolve penetração, com os dedos, para alcançar o Ponto G, em quem tem vagina; e o Ponto P, em quem tem próstata. “Muitos homens, que não tinham ereção, conseguem mantê-la por uma hora e meia, porque não há pressão pelo desempenho. O mesmo ocorre com mulheres, que se queixam de falta de lubrificação e até têm dúvidas se tiveram algum orgasmo na vida”, enfatiza Sangeeta. 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