
Unsplash/Reprodução Aquela irritação típica quando a fome aperta não acontece de forma automática por causa da queda do açúcar no sangue. Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Bonn mostra que o fator decisivo para a piora do humor é a percepção consciente da fome, e não a glicose em si. A pesquisa acompanhou 90 adultos saudáveis por quatro semanas, usando sensores contínuos de glicose e registros diários de humor, e foi publicada na revista científica “eBioMedicine”. Fome sentida, humor afetado Durante o estudo, os participantes usaram sensores no braço que mediam a glicose ao longo do dia e responderam, via aplicativo, perguntas sobre fome, saciedade e humor. Quando os dados foram analisados em conjunto, os pesquisadores observaram que níveis mais baixos de glicose só se associavam a pior humor quando as pessoas relatavam estar com fome. “Não é o nível de glicose em si que melhora ou piora o humor, mas o quanto essa falta de energia é percebida conscientemente”, afirmam os autores nas conclusões do trabalho. Veja os vídeos que estão em alta no g1 O papel da percepção do próprio corpo O estudo também reforça a importância da interocepção — a capacidade de perceber sinais internos, como fome, saciedade e batimentos cardíacos. Participantes mais sensíveis às variações do próprio corpo apresentaram menos oscilações de humor, mesmo diante de flutuações metabólicas. Segundo os pesquisadores, essa percepção pode funcionar como uma espécie de “amortecedor emocional” diante das variações naturais de energia ao longo do dia. Implicações para saúde mental e metabólica Os autores destacam que doenças como depressão e obesidade costumam estar associadas a alterações metabólicas. Compreender como a percepção corporal influencia o humor pode ajudar, no futuro, no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, como treinamentos de percepção corporal ou técnicas de estimulação do nervo vago. Metodologia, pontos fortes e ressalvas Os pesquisadores da Universidade de Bonn acompanharam 90 adultos saudáveis por quatro semanas. Os participantes usaram sensores contínuos de glicose e responderam, duas vezes por dia, questionários sobre humor e estados metabólicos. A análise mostrou que a sensação de fome mediou quase totalmente a relação entre glicose e humor. Entre os pontos fortes estão o acompanhamento prolongado e os dados em tempo real; entre as limitações, o fato de o estudo envolver apenas pessoas saudáveis e não permitir conclusões diretas de causa e efeito.
