
Estudo da FGV e da ABIEC aponta cenário de descarbonização em 25 anos Divulgação Maior exportadora de carne bovina do mundo, a pecuária brasileira está consolidando seu papel na redução das emissões de gases de efeito estufa. Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) concluiu que o setor deve reduzir pelo menos 79,9% as emissões de CO2 na produção de carne até 2050. Essa redução, no entanto, depende da manutenção do ritmo atual de adoção de práticas mais eficientes de produção e de conversão de novas áreas para pastagem, podendo chegar a 92,6% com a implantação de medidas adicionais, no mesmo período. Entre essas medidas estão a recuperação de pastagens e a adoção de práticas de pecuária regenerativa, levando em conta o cumprimento da meta do governo brasileiro de zerar o desmatamento até 2030. O estudo foi divulgado na COP30, realizada em Belém em novembro. A FGV ainda mostrou que, mesmo com o crescimento da produção, as emissões líquidas, ou seja, as emissões menos as remoções, também tendem a cair até 2050: 60,7% no cenário de continuidade das tendências atuais e até 85,4% no mais otimista. “Nosso objetivo foi compreender o papel da pecuária brasileira na agenda climática e identificar onde estão as maiores oportunidades de mitigação”, afirma Camila Estevam, pesquisadora no FGV Agro. “Os resultados indicam que o setor tem condições de ampliar sua produção e, ao mesmo tempo, avançar em uma trajetória consistente de descarbonização, atuando como aliado da agenda climática”. Rota para a descarbonização O estudo analisou quatro cenários factíveis. O primeiro simulou a continuidade das tendências de uso da terra e aumento da produtividade, práticas que já existem. Desde 1990, a pecuária brasileira aumentou a produtividade em 183%, ao mesmo tempo em que reduziu a área ocupada por pastagens em 18%, segundo a ABIEC. Se for mantido esse ritmo, as emissões serão reduzidas de 80 kg de CO₂2 para 16,1 kg, o que representa uma queda de 79,9% nas emissões por quilo de proteína animal produzida. O segundo cenário considera o cumprimento da meta do governo de zerar o desmatamento até 2030, o que permitiria uma redução de 86,3%. O terceiro leva em conta a adoção integral do Plano ABC+ (Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária), com foco na recuperação de pastagens degradadas e na expansão de sistemas integrados, como o de lavoura e pecuária. Nesse cenário, a descarbonização chega a 91,6%. O quarto é o mais otimista: redução de 92,6%. Ele incorpora os itens anteriores e o uso de técnicas como aditivos alimentares para redução de fermentação entérica e o abate precoce, como motores de eficiência. Segundo a ABIEC, o cenário mais avançado de descarbonização depende da aplicação de políticas públicas que funcionam como alavanca e balizador da ação produtiva. Uma das questões essenciais apontadas pelo estudo é o fim da ilegalidade e o alcance da meta de desmatamento zero até 2030, algo que irá exigir a participação do setor produtivo. Para esse cenário se concretizar, será preciso colocar em prática os planos de prevenção e combate ao desmatamento, e políticas públicas de rastreabilidade. Entre essas ações estão o Plano Nacional de Identificação de Bovinos (PNIB) e a plataforma AgroBrasil+Sustentável, ambas do Ministério da Agricultura, além de iniciativas estaduais como o Selo Verde e o Programa de Integridade da Pecuária do Pará. Na visão da ABIEC, o governo também precisa criar mecanismos de incentivo e financiamento para acelerar a adoção das práticas do Plano ABC+ e das tecnologias mais avançadas, garantindo que o investimento na conservação e na recuperação de pastagens degradadas seja economicamente viável para o produtor rural. Segundo Roberto Perosa, presidente da ABIEC, a pecuária brasileira tem um papel central na agenda climática e um enorme potencial para contribuir com a descarbonização, liberando espaço nas metas do Brasil em relação ao Acordo de Paris. “Isso é motivo de muito orgulho, mas também aumenta ainda mais a nossa responsabilidade, pois precisamos continuar a acelerar o caminho que já estamos percorrendo,” diz.
