População de jandaias cresce 53% e reforça alerta de proteção da espécie em Fortaleza (CE)

Published 2 hours ago
Source: g1.globo.com
População de jandaias cresce 53% e reforça alerta de proteção da espécie em Fortaleza (CE)

População de jandaia-verdadeira aumenta no Carnaubal em Fortaleza Fábio Nunes Na primeira semana de dezembro, uma equipe composta por dez pessoas se reuniu em um bairro de Fortaleza para uma missão importante: contabilizar a população de jandaia-verdadeira (Aratinga jandaya) que vive no local. A ave, que possui uma beleza singular com tons de verde, amarelo e alaranjado, está repovoando a cidade e, em especial, uma área aberta próxima à residências. O lugar tem sido visado por negócios imobiliários e é conhecido atualmente como Carnaubal das Jandaias, devido à ocorrência dessas moradoras ilustres. Equipe se dividiu pela área de dormitório da espécie para realizar a contagem Fábio Nunes O objetivo da mobilização da equipe da ONG Aquasis, que representava o projeto Refaunar Arvorar, e de membros do Refúgio das Jandaias, foi levantar dados atualizados sobre a população da espécie, considerada ameaçada no estado do Ceará e que enfrenta diversos desafios para sobreviver na área. A metodologia da equipe para executar esse trabalho foi se distribuir ao fim do dia em pontos estratégicos pela área de dormitório dessas aves e, assim, fazer a contagem. O primeiro censo realizado da espécie foi em 2024 e apontou a ocorrência de 47 indivíduos na área. A expectativa para essa segunda atividade, portanto era baixa, pois o terreno onde elas vivem sofreram com pelo menos três incêndios no decorrer deste período. Além disso, ao longo dos meses houve relatos de captura ilegal das jandaias. Mas para a alegria e surpresa de todos os protetores da espécie, a população das jandaias aumentou 53% de um ano para outro, sendo ao todo 72 aves registradas no final de 2025. Jandaia-verdadeira resiste em território onde encontra muitas ameaças Fábio Nunes “Havia um sentimento real de pessimismo, ancorado na perda de habitat, pressão humana crescente e riscos constantes. Os dados surpreenderam, esse crescimento é altamente significativo porque demonstra que, mesmo sob forte pressão antrópica, a espécie mantém elevada capacidade e adaptabilidade. Fica evidente que, quando minimamente protegida, a jandaia consegue se estabelecer, se reproduzir e ampliar sua população”, explica Fábio Nunes, biólogo e gerente de programa da ONG Aquasis. As jandaias estão se mostrando resilientes perante a tantas situações adversas que encontram para sobreviver em Fortaleza. Porém não é indicado contar apenas com essa habilidade da ave em resistir aos impactos. Para a equipe que monitora, estuda e se preocupa com a espécie são necessários planos efetivos de proteção da ave e do ambiente ao qual ela se encontra. Por isso, o resultado do segundo censo é representativo. Ele serve de alerta e, ao mesmo, tempo, é um chamado a todos. Aves utilizam ocos em árvores para nidificar Fábio Nunes “Ele é um alerta porque mostra que, apesar da resiliência, a espécie continua ameaçada, sobretudo à captura ilegal, que historicamente foi o principal fator do seu desaparecimento em grande parte do Ceará. E ao mesmo tempo é um convite porque a jandaia-verdadeira está oferecendo ao fortalezense uma rara segunda chance de convivência. Nossos antepassados conviveram com essa ave na capital, e depois perderam justamente pela retirada sistemática de indivíduos da natureza. Agora, ela está voltando, contra todas as probabilidades”, pontua Fábio. Além de símbolo do estado, em Fortaleza essa população da jandaia carrega um peso importante: ela é considerada a espécie-chave para compreender a qualidade do ambiente. Se houver um declínio populacional da ave, isso também poderá representar uma queda na qualidade do habitat, por exemplo. Com o aumento, é possível diagnosticar que há estrutura ecológica suficiente para sustentar a fauna nativa. “Esse tipo de informação permite antecipar ameaças emergentes, como pressão de captura, avanço imobiliário, fragmentação florestal e eventos extremos como incêndios. A decisão que temos diante de nós é simples: ou permitimos que a especulação imobiliária, o fogo e captura eliminem novamente essa espécie-símbolo, ou fazemos o caminho oposto, protegendo de forma efetiva o carnaubal e fortalecendo o sentimento de pertencimento e responsabilidade na cidade. A jandaia já fez a sua parte. Cabe a nós decidir como iremos agir”, explica Nunes. Jandaia é considerada espécie-chave para indicar qualidade do ambiente Fábio Nunes Carnaubal das Jandaias O Carnaubal de Fortaleza é considerado um dos últimos remanescentes de área verde com função ecológica efetiva dentro da capital. O local possui dois regimes fundiários, isso significa que parte do território é área pública e outra parte é considerada área privada. Fábio explica que o cenário é complexo e preocupante ao olhar da perspectiva da vida das jandaias e outros bichos que vivem ali. Segundo ele, emendas políticas estão sendo aprovadas e atingem diretamente a proteção de áreas verdes, flexibilizando regras para ocupações que podem ser irreversíveis para ambientes naturais, que é caso do Carnaubal. “Fortaleza não precisa de mais shoppings, condomínios, supermercados substituindo vegetação, precisa de arborização, corredores ecológicos e de adaptações frente às ondas de calor e eventos extremos”, pontua Fábio. Espécie exótica domina vegetação e ameaça fauna e flora local Fábio Nunes Ameaças Além da pressão imobiliária, que compromete e fragmenta o Carnaubal, os casos de incêndios, e a captura ilegal, outra ameaça para a jandaia-verdadeira é uma trepadeira exótica que sufoca e mata as carnaúbas e compromete o habitat das aves. Popularmente essa planta invasora é conhecida como viuvinha (Cryptostegia madagascariensis). Sem proteção da área, essa espécie pode potencializar o risco de declínio a fauna e flora nativa. De acordo com o biólogo Fábio Nunes, para que a jandaias e outras espécies prosperem nesse ambiente é necessário que o Carnaubal seja estabelecido como uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE). Neste ano houve uma consulta pública para essa ação, porém o decreto ainda não foi assinado pela prefeitura. “Sem essa formalização, a área permanece vulnerável a interesses imobiliários e a decisões políticas de curto prazo. A criação da ARIE é a solução de longo prazo que dará segurança jurídica, plano de manejo e fiscalização permanente”, pontua. Ninho construído por equipe foi instalado para ver auxiliar espécie Fábio Nunes Ações de proteção A jandaia-verdadeira tem algumas instituições protetoras que agem em prol da sua segurança e futuro dela no Ceará, como a ONG Aquasis, em parceria com a Associação Caatinga, Parque Arvorar, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Superintendência do Meio Ambiente (Semace) e Refúgio das Jandaias e Associação de Moradores do Villa Verde. A falta de cavidades em árvores, é outra preocupação, já que espécie depende desses ocos para fazes seus ninhos. Pensando em auxiliar nesse caso, foi instalado um ninho artificial piloto, feito de tronco de carnaúba, para ver a adaptabilidade da ave. Caso haja adesão da espécie, a equipe irá ofertar mais ninhos para contribuir com o processo reprodutivo. 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