'Caminhando para a mudança', diz 1ª mulher trans a se formar em Educação Física na Ufac

Published 2 hours ago
Source: g1.globo.com
'Caminhando para a mudança', diz 1ª mulher trans a se formar em Educação Física na Ufac

Katherine Dias, de 25 anos, é a primeira mulher trans a se formar em educação física bacharelado na Ufac Arquivo pessoal Quando Katherine Dias Castro colou grau como bacharela em Educação Física no último dia 18 de dezembro, aos 25 anos, o diploma representava mais do que a conclusão de um curso iniciado em 2019. A formatura consolidou uma travessia pessoal e coletiva: ela se tornou a primeira mulher trans a concluir o curso da Universidade Federal do Acre (Ufac) e passou a ocupar, oficialmente, um espaço historicamente negado a pessoas como ela. Foi durante a graduação, atravessada pela pandemia e por um período intenso de reflexão, que Katherine passou a se entender como uma mulher trans. 📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp O processo de autoconhecimento caminhou junto com a vida acadêmica em um ambiente que, segundo ela, permitiu que essa descoberta fosse vivida com menos peso. "Foi durante a graduação que me entendi como uma pessoa trans. Teve todo um processo de autoconhecimento e aceitação, mas sempre me senti muito à vontade de ser quem eu sempre fui", destacou em entrevista ao g1. MP-AC lança cartilha de orientação de retificação do nome para pessoas LGBT+ A experiência dentro da universidade foi marcada pelo acolhimento. Katherine relatou que professores e colegas tiveram papel central para que ela permanecesse no curso e chegasse até ao sonhado momento do diploma. "Sempre fui bem tratada dentro do meio acadêmico. Pelo fato de a Ufac ter uma diversidade muito grande, sempre me senti muito acolhida, os professores sempre foram incríveis [...] a Ufac em si é um ambiente com muita diversidade, o que acabou tornando o processo mais leve", complementou. LEIA TAMBÉM: 'É nosso direito poder estudar', diz primeira travesti formada em psicologia em universidade no Acre Acre teve três assassinatos de pessoas trans registrados em oito anos: '365 dias lutando' Ainda assim, Katherine fez questão de situar sua trajetória dentro de um cenário mais amplo, marcado pela violência e pela exclusão social enfrentadas diariamente por pessoas trans no Brasil. No Acre, uma pesquisa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostrou que ocorreram três assassinatos de travestis e transgêneros nos últimos oito anos. Os números fazem com que a taxa seja de 0,36 a cada 100 mil habitantes. Ainda segundo o estudo da Antra, o Brasil se manteve como o país com mais assassinatos de trans e travestis no mundo pelo 16º ano seguido. Em 2024, foram 122 assassinatos. Para ela, concluir o ensino superior é também um ato de resistência. "Não podemos ignorar a falta de oportunidade. Ser trans é uma resistência. Muitas são abandonadas pela própria família e não têm a oportunidade de chegar em uma universidade. Ainda estamos longe de estar onde é nosso por direito, mas acredito que estamos caminhando para a mudança, então temos que ser fortes", refletiu. Katherine Dias celebrou a conquista no último dia 18 de dezembro em Rio Branco Arquivo pessoal Projeções para o futuro Com o diploma em mãos, Katherine almeja um futuro que une carreira profissional e compromisso social. A intenção é seguir no esporte e ampliar a atuação para além do treino tradicional, pensando em inclusão e acesso. Esse caminho, segundo ela, está diretamente ligado ao desejo de fortalecer a presença de pessoas trans no esporte e disputar espaços historicamente fechados. "Quero me especializar ainda mais, buscar meios de avançar com pautas de pessoas trans no esporte e lutar pelo nosso espaço que é sempre nos tirado historicamente", frisou. Agora, ao olhar para frente, ela deixa uma mensagem para outras mulheres trans que ainda enfrentam barreiras para sonhar com a universidade, uma vez que permanecer, concluir e ocupar também é uma forma de transformação. "Nunca desistam dos seus sonhos, nunca aceite que digam quem você é. Seja sempre autêntica, não tenha medo de lutar e conquistar, sempre estaremos torcendo uma pelas outras, e como canta a cantora Urias, nunca percam a vontade de voar", finalizou. VÍDEOS: g1

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