Camada gigante sob o Triângulo das Bermudas pode explicar mistério geológico da região

Published 2 hours ago
Source: g1.globo.com
Camada gigante sob o Triângulo das Bermudas pode explicar mistério geológico da região

Voz dos Oceanos chega às Ilhas Bermudas As ilhas Bermudas, localizadas no Atlântico Norte em uma área popularmente conhecida como Triângulo das Bermudas, permanecem elevadas no meio do oceano há mais de 30 milhões de anos, mesmo sem atividade vulcânica recente. Esse comportamento sempre intrigou geólogos —e agora um novo estudo científico aponta uma explicação para o fenômeno. Pesquisadores identificaram uma estrutura geológica espessa e incomum sob as ilhas Bermudas, capaz de sustentar o relevo da região sem a necessidade de uma fonte ativa de calor nas profundezas da Terra. O trabalho foi publicado na revista científica Geophysical Research Letters. Triângulo das Bermudas fica no Oceano Atlântico Reprodução/Globo News O que o estudo investigou Apesar da associação popular com o Triângulo das Bermudas –região famosa por relatos históricos de desaparecimentos de navios e aeronaves–, o estudo não trata de navegação, magnetismo ou outros fenômenos atribuídos ao imaginário em torno do local. A pesquisa se concentra exclusivamente na estrutura geológica sob o arquipélago das Bermudas, que ocupa apenas um dos vértices dessa área informalmente delimitada. A partir da análise de ondas sísmicas geradas por grandes terremotos ao redor do mundo, os cientistas conseguiram mapear o subsolo sob as ilhas Bermudas. Os dados revelaram a presença de uma camada adicional de rocha com cerca de 20 quilômetros de espessura, localizada logo abaixo da crosta oceânica e dentro da própria placa tectônica. Em condições consideradas típicas, a crosta oceânica repousa diretamente sobre o manto terrestre, sem camadas intermediárias. O estudo mostra que, sob as Bermudas, essa configuração é diferente — o que torna a região geologicamente incomum. Triângulo das Bermudas AdobeStock Por que as Bermudas não afundaram O estudo indica que, sob as ilhas Bermudas, existe uma camada espessa de rochas que é ligeiramente mais leve do que o material do manto terrestre ao redor. À primeira vista, a diferença parece mínima, mas, distribuída ao longo de dezenas de quilômetros de espessura, ela se torna suficiente para sustentar toda a estrutura acima. Para entender, os cientistas usam uma comparação simples: materiais menos densos tendem a “boiar” sobre materiais mais densos —assim como o gelo flutua na água. No caso das Bermudas, essa camada mais leve funciona como uma base que ajuda a sustentar a crosta acima dela. Esse efeito gera o chamado swell oceânico, uma espécie de inchaço do fundo do mar. Na região das Bermudas, o fundo do oceano fica entre 400 e 600 metros mais alto do que nas áreas vizinhas do Atlântico. Segundo os cálculos do estudo, essa sustentação é suficiente para manter as ilhas elevadas mesmo após mais de 30 milhões de anos sem atividade vulcânica. Ou seja, as Bermudas não precisam de vulcões ativos nem de calor vindo das profundezas da Terra para permanecer acima do nível esperado do fundo oceânico —a própria estrutura das rochas sob a ilha já cumpre esse papel. Um legado do antigo vulcanismo Os autores interpretam que essa estrutura se formou quando as Bermudas ainda eram vulcanicamente ativas, entre 30 e 35 milhões de anos atrás. Parte do magma gerado naquele período não chegou à superfície e acabou se acumulando sob a crosta, onde esfriou e se solidificou, modificando a base da placa tectônica. Esse material remanescente do antigo vulcanismo segue influenciando a paisagem atual, sustentando a elevação oceânica observada na região. Por décadas, muitas ilhas oceânicas foram explicadas pela presença de plumas quentes do manto — colunas de material quente que sobem de regiões profundas do planeta. No caso das Bermudas, porém, o estudo mostra que não é necessária uma pluma ativa para sustentar o relevo. Segundo os pesquisadores, compreender esse tipo de estrutura contribui para diferenciar processos comuns da dinâmica interna da Terra de casos mais raros e extremos. Triângulo das Bermudas: por que a região ficou famosa Mistério do Triângulo das Bermudas ganha nova hipótese As ilhas Bermudas ficam em uma área do Atlântico Norte popularmente conhecida como Triângulo das Bermudas, região que ganhou fama ao longo do século 20 por relatos de desaparecimentos de navios e aeronaves. Esses episódios ajudaram a alimentar teorias misteriosas, que vão de falhas inexplicáveis em instrumentos a explicações sobrenaturais. Hoje, no entanto, pesquisadores apontam que a região reúne fenômenos naturais bem conhecidos, como tempestades tropicais rápidas, correntes marítimas intensas, variações climáticas bruscas e áreas de tráfego marítimo e aéreo intenso —fatores que ajudam a explicar muitos desses relatos. A descoberta geológica sob as Bermudas não tem relação com esses mitos, mas mostra como, mesmo em uma das regiões mais famosas do planeta, os verdadeiros mistérios ainda estão no interior da Terra.

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