DJ que virou movimento: Jamila Martins e a revolução cultural

Published 10 hours ago
Source: g1.globo.com
DJ que virou movimento: Jamila Martins e a revolução cultural

O grupo Wiitch Plant nasceu da união de empreendedoras visionárias do litoral norte de São Paulo, que, por meio de eventos fechados, têm criado uma rede poderosa de apoio e inovação entre empresárias locais. Com foco em projetos ecológicos e beneficentes, essas mulheres estão transformando o conceito de empreendedorismo, unindo força e propósito para criar um impacto positivo na comunidade e no meio ambiente. A seguir, conheça a trajetória inspiradora de Jamila Martins, do grupo Wiitch Plant. Wiitch Plant Divulgação Durante muitos anos, a música eletrônica no interior de Minas Gerais foi tratada como algo periférico, invisível e distante das políticas públicas. Em meio a esse contexto, uma jovem DJ iniciou sua carreira sem apoio, sem estrutura e sem referências femininas na área. Essa DJ era Jamila Martins — que, décadas depois, se tornaria uma das lideranças culturais mais importantes do Sul de Minas, ajudando a recuperar a autoestima cultural de uma região que enfrentou a perda de eventos, a burocratização do acesso à cultura contemporânea e a ausência de políticas que reconhecessem a música eletrônica como manifestação legítima. Sua história é marcada por resistência, estudo, coragem e visão estratégica. Infância, desafios e o início de uma carreira que parecia improvável Nascida em um contexto onde mulheres raramente ocupavam espaços de destaque na cena eletrônica, Jamila cresceu enfrentando dupla resistência: por ser mulher e por ser do interior. Enquanto grandes movimentos culturais se consolidavam em capitais, ela iniciava seus primeiros sets em ambientes improvisados, muitas vezes masculinos e pouco receptivos. Trabalhou em eventos sem retorno financeiro, aprendeu sozinha, pesquisou tendências e criou oportunidades em ambientes que não ofereciam suporte. Wiitch Plant Divulgação A falta de incentivo público, a escassez de espaços para apresentações e o preconceito com o gênero musical foram obstáculos constantes — mas também motores que impulsionaram sua determinação. De DJ a líder cultural: a construção de uma mulher-hub Com o passar dos anos, Jamila deixou de ser apenas DJ: tornou-se articuladora, estrategista e empreendedora da cultura contemporânea. Ela compreendeu cedo que, para o interior ter voz, não bastava produzir eventos — era preciso criar estrutura, continuidade e rede. Em um cenário onde a música eletrônica era vista com desconfiança, Jamila assumiu o papel de ponte entre artistas, poder público, comunidade e educadores, atuando como a pessoa que não apenas executa, mas integra e conecta todos os pontos do ecossistema cultural. Foi nesse processo que surgiu sua atuação como mulher-hub — conceito que descreve quem cria caminhos em territórios onde antes havia apenas isolamento cultural. Jamila passou a ocupar múltiplas frentes: produtora executiva, diretora artística, professora, curadora, mediadora comunitária e representante da cena perante instituições públicas. Sua força está justamente na capacidade de transitar entre diferentes áreas, transformando demandas difusas em projetos estruturados e ações permanentes. Wiitch Plant Divulgação Além de criar oportunidades, ela desenvolveu metodologias próprias de formação, fomentou a profissionalização de novos talentos e apresentou ao poder público uma nova forma de pensar cultura contemporânea no interior. Com isso, deixou de atuar apenas como artista e assumiu a posição de liderança institucional, alguém que influencia políticas, orienta decisões e ajuda a moldar o futuro cultural da região. Sua trajetória demonstra que liderança feminina, quando aliada à técnica e à visão social, tem capacidade real de reposicionar cidades no mapa da cultura brasileira. Escola que não ensina só técnica — ensina futuro Fundada por Jamila, a Beatlife se tornou o primeiro espaço estruturado de formação de DJs no Sul de Minas. Ali, ela criou programas que não só ensinam técnica, mas também cidadania cultural, profissionalização e pertencimento. A escola já formou centenas de artistas — com isso, a Beatlife se tornou um capítulo fundamental da história da música eletrônica do interior de MG e uma referência na formação artística descentralizada no Brasil. Ao assumir a direção artística da Beatplay BR, Jamila passou a liderar uma estrutura que vai além da lógica tradicional de agências. A Beatplay não se organiza como uma empresa de venda de shows, mas como um movimento cultural, voltado à formação, fortalecimento e gestão administrativa de artistas da música eletrônica. O trabalho envolve planejamento estratégico, construção de identidade, orientação de carreira, suporte operacional e desenvolvimento de projetos que ampliam a atuação dos DJs no mercado. Em um setor historicamente marcado pela predominância masculina, Jamila ocupa uma posição rara, conduzindo um núcleo que funciona como hub de apoio, e não apenas como intermediário comercial. Com olhar técnico, sensibilidade estética e compromisso com diversidade, ela estrutura carreiras, projeta novos talentos e consolida um modelo de gestão que coloca a cultura — e não apenas o mercado — no centro das decisões. A partir dessa abordagem, a Beatplay BR se tornou uma plataforma que fortalece artistas, organiza suas demandas e amplia a presença da música eletrônica mineira no cenário nacional, sem depender exclusivamente da lógica de contratantes ou do circuito comercial tradicional. A superação que levou de volta a cultura eletrônica Depois de anos sem receber eventos de grande relevância socio-cultural por causa da burocracia e da falta de apoio institucional, Pouso Alegre voltou ao circuito cultural graças à articulação de Jamila. O principal marco foi o Showcase Beatplay, realizado em 29 de novembro de 2025, que reuniu artistas, intervenções urbanas e público diverso. O evento simbolizou a retomada da cultura contemporânea na cidade, abrindo espaço para novas iniciativas e apontando caminhos para maior diálogo entre produtores e gestão pública. “Raízes Futuras”: música eletrônica, literatura mineira e vozes periféricas Em sua frente autoral, Jamila prepara o álbum “Raízes Futuras”, projeto que mistura música eletrônica, literatura mineira e participação de percussionistas, mulheres artistas e crianças periféricas. A obra conecta tradição e tecnologia e busca traduzir, em som, as camadas culturais do estado. “Sons da Cena”: websérie documental sobre a história da música eletrônica Jamila também é idealizadora e produtora da websérie “Sons da Cena – A história da música eletrônica em Minas Gerais”, que registra a formação e evolução do gênero no estado. A série reúne depoimentos de pioneiros, produtores culturais, artistas LGBTQIAPN+, mulheres e agentes que mantiveram viva a cultura eletrônica ao longo de décadas. O projeto se firma como registro histórico e ação educativa, contribuindo para a preservação da memória cultural mineira. De Pouso Alegre para o Brasil — e para o mundo Hoje, Jamila Martins é referência na cultura contemporânea do interior do país. Com múltiplas frentes — educação, direção artística, audiovisual, festivais e produção autoral —, ela demonstra que liderança feminina pode reconstruir territórios culturais inteiros. Sua trajetória inspira outras mulheres, fortalece artistas e mostra que inovação e música eletrônica podem nascer longe dos grandes centros. Com novos projetos e circulação em expansão, Jamila prepara a fase internacional de sua carreira, levando consigo a força cultural do Sul de Minas e abrindo portas para as próximas gerações. A história de Jamila Martins é sobre superação, território e futuro. Uma mulher que mudou a cultura eletrônica do interior — e que agora ajuda a moldar a cultura brasileira. Saiba mais sobre o Wiitch Plant Siga-nos no Instagram.

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