Conheça a borboleta que realiza uma das maiores jornadas migratórias entre os insetos

Published 4 hours ago
Source: g1.globo.com
Conheça a borboleta que realiza uma das maiores jornadas migratórias entre os insetos

A migração tem início em março, e o retorno ocorre entre setembro e novembro. reuvenm / iNaturalist Neste fim de ano, muitos de nós já começamos a planejar malas, destinos e roteiros. Há, no entanto, quem embarque em uma viagem muito diferente – sem bagagens, apenas com asas. A borboleta‑monarca (Danaus plexippus) é uma dessas viajantes incansáveis, capaz de percorrer centenas de quilômetros em uma jornada que impressiona pela resistência e pela precisão do percurso. Segundo o professor André Freitas, do Departamento de Biologia Animal da Unicamp, durante o inverno uma parte da população de Danaus plexippus se concentra em áreas de invernada nas montanhas do México ou da Califórnia. Com a chegada das temperaturas mais altas e o fim da estação fria, essas borboletas deixam esses refúgios e iniciam uma longa migração rumo ao norte, seguindo em direção ao Canadá. No caminho, esses animais fazem paradas para se reproduzir, depositando ovos que darão origem à próxima geração de borboletas. E justamente essas descendentes que continuarão a migração rumo ao norte. Durante a primavera e o verão, sucessivas gerações da monarca ajudam a expandir a população, alcançando regiões cada vez mais ao norte. A borboleta-monarca é típica de ambientes abertos. Mark Wilson / iNaturalist Com a chegada do outono, o ciclo se inverte: a última geração – aquela nascida ao final da viagem de ida ao Canadá – faz a longa jornada de retorno até a área de invernada original. Assim, uma borboleta que alcançou o extremo norte pode, nessa etapa final, regressar às montanhas do México ou da Califórnia, completando o ciclo migratório conforme sua origem. “As monarcas que se desenvolvem no Canadá podem atravessar toda a América do Norte até chegar ao México ou à Califórnia. Por isso, chegam praticamente ao limite de sua capacidade física. Muitos indivíduos ficam extremamente exaustos, já que se alimentam pouco ao longo da viagem”, explica Freitas. A migração tem início em março, e o retorno ocorre entre setembro e novembro. O especialista acrescenta que qualquer tipo de perturbação, como algo que assuste as borboletas e as faça voar, gastando energia desnecessariamente, pode ser determinante para o sucesso da migração. A energia perdida nessas situações pode impedir que completem o trajeto de volta, comprometendo todo o fenômeno migratório da espécie. “A gente costuma dizer: a monarca provavelmente não será extinta, mas o fenômeno migratório que conhecemos hoje pode desaparecer completamente se as áreas onde elas passam o inverno forem perturbadas ou modificadas”. De acordo com Freitas, outras espécies de borboletas também são capazes de percorrer centenas de quilômetros, incluindo aquelas que não realizam migrações. No entanto, o que torna a borboleta-monarca verdadeiramente especial é o voo coordenado em direção a duas regiões específicas, onde todas elas se dirigem e passam o inverno. A borboleta-monarca adulta é nectarívora. Kyle Nessen / iNaturalist “Essa jornada migratória única tem muita importância, porque não existe nada igual no planeta envolvendo borboletas. Tem toda uma relação com a história geológica e climática, com o passado do planeta, com mudanças que fizeram essas borboletas irem para um lado e depois voltarem, e acabarem mudando características biológicas que fazem elas terem esse comportamento: sair lá do Canadá e voltarem para um único lugar no México. Isso é lindo e um fenômeno biológico único”, complementa. Segundo o pesquisador, a borboleta-monarca não é uma polinizadora de destaque em plantas usadas na nossa alimentação. Mesmo assim, tem grande importância ecológica: as lagartas servem de alimento para inúmeros insetos, aracnídeos e outros, sustentando a base de muitas cadeias alimentares. A beleza do percurso dessa espécie também inspira reflexões que vão além da biologia. Para Ciro Porto, jornalista e apresentador do Terra da Gente, aos olhos de quem observa a natureza sem muita atenção, ela pode parecer apenas uma borboleta. Mas a monarca desafia essa percepção e lembra que o ambiente natural tem suas próprias leis – silenciosas, precisas e, muitas vezes, inexplicáveis. “É um exemplo da natureza que mostra que a borboleta não viaja por ela, mas com a finalidade de ser parte de algo maior. Ou seja, extrapola aquela razão essencialmente humana, já que a maioria das nossas ações são tomadas em função de nós mesmos. No caso da monarca, ela viaja, migra e morre para servir de alimento a outras espécies. Fazer parte de algo maior é um grande desafio para o ser humano, enquanto, no ambiente natural, percebemos que é comum”, afirma. A espécie A borboleta-monarca é típica de ambientes abertos e pode ser encontrada em jardins, bordas de florestas, pastos abandonados, terrenos baldios e outras áreas de vegetação ampla. O ciclo de vida começa no ovo, que dura cerca de uma semana. A fase de lagarta se estende por pouco mais de um mês, embora em períodos muito quentes possa durar pouco mais de 20 dias, até a transformação em pupa. A fase de pupa leva aproximadamente mais uma semana. O adulto que emerge para realizar a longa migração de retorno aos locais de invernada pode viver de seis a nove meses. Já as gerações de verão – que se reproduzem ao longo do caminho e seguem avançando para o norte – têm um tempo de vida bem menor, variando de duas a três semanas até cerca de dois meses. A borboleta adulta é nectarívora, alimentando-se do néctar das flores, enquanto as lagartas consomem plantas da família Asclepiadaceae. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

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