Golpe do falso médico se espalha pelo Brasil; entenda como criminosos agem

Published 4 hours ago
Source: g1.globo.com
Golpe do falso médico se espalha pelo Brasil; entenda como criminosos agem

7 presos por aplicarem golpe do falso médico A demissão de um técnico de enfermagem em Santos (SP), após ter sido vítima do chamado golpe do falso médico, se soma a uma série de episódios semelhantes já registrados e investigados em diferentes estados do país. A fraude envolve criminosos que se passam por médicos ou gestores da saúde para obter dados sensíveis ou exigir pagamentos urgentes, sobretudo quando familiares enfrentam a internação de alguém em estado grave. Diante da recorrência dos casos, entidades médicas e hospitais têm reforçado alertas sobre esse tipo de abordagem. No episódio ocorrido no litoral paulista, o golpista entrou em contato por um ramal interno do hospital, se apresentou com o nome real de um médico da unidade e solicitou informações administrativas e imagens de prontuários. Com esses dados, tentou aplicar o golpe em familiares de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O funcionário acabou desligado da instituição por descumprimento de normas internas e da Lei Geral de Proteção de Dados. Casos parecidos vêm sendo apurados em estados como Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás e Rio de Janeiro. Em dezembro, uma operação policial prendeu suspeitos envolvidos em um esquema que fazia contatos com famílias de pacientes internados em UTIs, cobrando valores elevados para exames e medicamentos que supostamente não seriam cobertos por planos de saúde. Técnico de enfermagem Sidnei Alves Monteiro é demitido após cair no golpe do falso médico, em Santos, SP Arquivo Pessoal Como funciona o golpe do falso médico Embora haja variações, o golpe costuma seguir um padrão: o criminoso liga ou envia mensagens se identificando como médico, diretor clínico ou integrante da equipe hospitalar; usa nomes verdadeiros de profissionais, fotos retiradas da internet e, em alguns casos, informações reais sobre o paciente, como setor de internação; afirma que houve um agravamento súbito do quadro clínico, citando doenças graves ou termos técnicos para dar verossimilhança; diz que é necessário um pagamento urgente, geralmente via Pix, para exames, medicamentos ou procedimentos “fora da cobertura”; promete reembolso posterior e cria um clima de urgência extrema, com pressão emocional. Em investigações recentes, familiares relataram pedidos que chegavam a R$ 10 mil, feitos sob a justificativa de que a demora poderia comprometer o tratamento. Golpe do falso médico é feito por telefone para famílias de pacientes TV Integração/Reprodução Por que o golpe encontra terreno fértil em hospitais O ambiente hospitalar reúne fatores que facilitam esse tipo de crime: vulnerabilidade emocional de familiares, especialmente em UTIs; autoridade simbólica da figura médica, que reduz questionamentos; circulação de dados sensíveis, que pode ser explorada quando há falhas de segurança; rotinas intensas e sobrecarga das equipes, que diminuem o tempo para checagem. Mesmo sem acesso a prontuários completos, pequenas informações já são suficientes para tornar a abordagem convincente. Entidades médicas emitem alertas O Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira têm reforçado alertas sobre diferentes golpes que usam indevidamente a imagem e a autoridade da profissão médica —seja para extorquir famílias de pacientes, seja para enganar os próprios profissionais de saúde. Em comunicado recente, o CFM informou ter recebido denúncias de falsários que entram em contato com médicos por aplicativos de mensagens, usando logomarca oficial e linguagem persuasiva para oferecer suposta facilidade no pagamento da anuidade profissional. Após a interação, os golpistas enviam boletos falsos. O conselho reforça que nem o CFM nem os Conselhos Regionais de Medicina enviam cobranças por WhatsApp ou outros aplicativos e orienta que qualquer pendência financeira seja verificada apenas pelos canais oficiais. Já a Associação Médica Brasileira, em nota enviada ao g1, afirma que a atuação criminosa de pessoas que se passam por médicos —ou que usam indevidamente a identidade da profissão— representa grave risco à saúde da população. Segundo a entidade, indivíduos sem formação adequada, registro profissional ou habilitação legal não têm competência técnica nem respaldo ético para diagnosticar, prescrever ou orientar tratamentos, o que pode resultar em erros graves, agravamento de doenças, sequelas irreversíveis e até mortes evitáveis. Além do dano direto aos pacientes, a AMB avalia que essas práticas fragilizam o sistema de saúde, corroem a confiança da população nos profissionais devidamente habilitados e sobrecarregam serviços públicos e privados com complicações decorrentes de atendimentos irregulares. A entidade orienta a população a sempre verificar se o médico tem CRM ativo e a denunciar imediatamente abordagens suspeitas aos conselhos de medicina, ao Ministério Público e às autoridades policiais. Impactos vão além do prejuízo financeiro Além da perda de dinheiro, diz a entidade, o golpe pode provocar: abalo psicológico em familiares já fragilizados; quebra de confiança na comunicação entre hospital e família; exposição indevida de dados de saúde, protegidos por lei; risco à segurança do paciente, quando informações clínicas circulam fora dos canais formais. Entre profissionais de saúde, há ainda consequências éticas e trabalhistas, mesmo quando a abordagem ocorre em contexto de boa-fé, o que tem levado entidades a defender protocolos mais claros e treinamentos específicos contra golpes baseados em engenharia social. Como se proteger do golpe do falso médico Desconfie de pedidos urgentes de pagamento, especialmente via Pix. Hospitais não cobram exames ou medicamentos por telefone ou WhatsApp. Conselhos profissionais não enviam boletos por aplicativos de mensagens. Não compartilhe fotos de prontuários, telas de computador ou dados internos. Em caso de dúvida, ligue diretamente para o hospital ou para o conselho pelos canais oficiais. Ao identificar uma tentativa de golpe, a orientação é encerrar o contato, comunicar a instituição envolvida e registrar ocorrência.

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