Custos do sistema de ônibus já subiram R$ 492 milhões neste ano em SP e pressionam Nunes a aumentar tarifa em 2026

Published 5 hours ago
Source: g1.globo.com
Custos do sistema de ônibus já subiram R$ 492 milhões neste ano em SP e pressionam Nunes a aumentar tarifa em 2026

Frota de ônibus da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Montagem/g1/Divulgação/Secom/PMSP Prestes a decidir sobre o aumento das tarifas de ônibus de São Paulo para 2026, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem um dilema econômico de difícil resolução: o aumento dos custos de operação dos ônibus da cidade, que subiu mais que a arrecadação da tarifa e obriga a gestão municipal a colocar mais dinheiro no sistema. De acordo com os dados públicos da SPTrans, entre janeiro e outubro deste ano o custo total do sistema já subiu R$ 492,7 milhões, na comparação com o mesmo período de 2024. No mesmo intervalo de tempo de dez meses, a arrecadação da tarifa cresceu R$ 410,3 milhões, mesmo assim obrigando a Prefeitura de São Paulo a repassar R$ 6 bilhões em subsídios às empresas até outubro, apesar do aumento de R$ 0,60 no valor do transporte no início de janeiro. Essa alta do custo acima do valor arrecadado fez aumentar em mais de R$ 81 milhões o valor do subsídio público para a operação do sistema. O custo total do sistema em 2025 já soma R$ 10,34 bilhões, enquanto a arrecadação tarifária foi de apenas R$ 4,3 bilhões. O valor de R$ 6 bilhões de subsídios é o maior da história da cidade, e nem considera os meses de novembro e dezembro. Esse repasse geral já é R$ 106 milhões maior do que o do ano passado, segundo os dados da SPTrans. O valor passou de R$ 5,9 bilhões entre janeiro e outubro de 2024 para R$ 6,030 bilhões no mesmo intervalo em 2025, conforme tabela abaixo. Em termos percentuais, o custo geral de operação do sistema de transportes da capital paulista cresceu cerca de 5% em 10 meses, valor acima da inflação de 3,92% acumulada até novembro de 2025, segundo o Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, que mede a inflação do país. Aumento dos custos do transporte público na capital paulista em 2025, até o mês de outubro. Reprodução Se a prefeitura não tivesse aumentado o valor da tarifa em janeiro de 2025, os repasses usados para cobrir as despesas do período seriam ainda maiores. Em nota enviada ao g1, a SPTrans diz que o aumento percentual dos custos foi ainda maior: de 5,96%, quase o dobro da inflação do período, mas que não é considerada “uma disparada nos custos”. Segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana e Transportes (SMT), “a variação de 5,96% registrada entre 2024 e 2025 está dentro do previsto no contrato de concessão e, portanto, não representa nenhum descontrole financeiro”. “Importante ressaltar que os custos da operação são influenciados diretamente por fatores alheios à administração municipal, como inflação e alterações tributárias federais. O subsídio é uma política necessária para a manutenção de benefícios como as gratuidades e a integração entre ônibus. Sem ele, a tarifa de ônibus na cidade estaria em R$ 11,78 e não em R$ 5,00”, declarou a nota. Revisão quadrienal dos contratos TCM autoriza revisão dos contratos das empresas de ônibus com a prefeitura Além dos custos anuais, o Tribunal de Contas do Município (TCM) autorizou nesta semana a revisão dos preços dos contratos com as empresas de ônibus da cidade. A revisão quadrienal, como é chamada, deveria ter sido feita em maio deste ano. E as empresas de ônibus alegam que esse atraso na revisão já gerou um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão para as companhias que operam os 32 lotes de linhas de ônibus da SPTrans na cidade. A falta desse pagamento adicional foi o alegado pelas empresas de transporte da cidade para não pagar o 13° salários dos funcionários, que provocou a paralisação dos motoristas em 9 de dezembro. Em maio de 2024, a SMT contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para calcular o tamanho desse reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão, que está previsto no acordo firmado em 2019 com as empresas de ônibus. A Fipe, que foi contratada por cerca de R$ 1,1 milhão, concluiu haver um desequilíbrio nos contratos porque a Taxa Interna de Retorno (TIR) deveria ser de 9,88% e não de 9,1% (índice praticado atualmente pela SPTrans). O TIR é um indicador financeiro que determina a rentabilidade de uma concessão considerando os custos de execução do serviço e o retorno obtido pela empresa. É um método de reavaliação feito em várias partes do mundo que, na prática, é uma reavaliação do modelo de concessão de transportes a cada quatro anos, prevendo a deterioração e o avanço na qualidade do serviço prestado pelas concessionárias. Reunião entre prefeitura e empresas de ônibus coloca fim à paralisação de ônibus Em São Paulo, a mesma correção foi feita em 2023 para a Concessionária ViaQuatro do Metrô, da Linha 4-Amarela, que determinou que o governo de São Paulo deveria repassar R$ 682,6 milhões à empresa por perdas contratuais com a pandemia. Para a ViaMobilidade, esse valor foi de R$ 297,8 milhões, totalizando mais de R$ 980 milhões a serem pagos pelo governo paulista a essas empresas até 2040. No contexto das empresas de ônibus da capital, a revisão quadrienal significa que haverá mais custos para o sistema de transporte em 2026, que obrigarão a gestão municipal a fazer mais repasses ao sistema de transporte da cidade. O subsídio previsto para 2026 é de R$ 6,2 bilhões, segundo proposta orçamentária enviada pelo Executivo à Câmara Municipal de São Paulo. O texto deve ser votado nesta quarta-feira (17) entre os vereadores da cidade e não incluiu esses custos adicionais da revisão quadrienal. Na segunda-feira (15), o secretário de Transportes, Celso Caldeira, publicou a proposta de termo de aditamento aos contratos de concessão do serviço de transporte público de passageiros na cidade. É a autorização para celebração dos acordos para aumento no valor dos contratos das empresas. Os termos e valores desses aumentos ainda não foram divulgados pela gestão Nunes. Aumento de tarifa em 2026 Nunes diz que decisão sobre aumento da tarifa de ônibus em SP sair após 20 de dezembro A tarifa de ônibus da capital paulista ficou congelada em R$ 4,40 durante toda a pandemia e recebeu aumento apenas em janeiro de 2025, passando para os atuais R$ 5,00, alta de 13%. Em conversa com o Bom Dia SP, da TV Globo, o prefeito afirmou que a decisão sobre a tarifa de 2026 só sairia na 2ª quinzena de dezembro e dependia de estudos da SPTrans sobre os valores do custo do sistema para o próximo ano, que é eleitoral e pode ter o próprio Nunes como candidato ao governo de São Paulo. Na conversa, ele justamente afirmou que a revisão quadrianual dos contratos é que definiria o valor do transporte público da cidade no próximo ano. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite da segunda, Nunes disse que o estudo da SPTrans deve ser apresentado só depois do dia 20 de dezembro. “Não tenho como falar sobre isso [aumento de tarifa] agora. Todo final do ano, a partir do dia 20, a SPTrans traz um estudo do custo, é um estudo bem profundo. Eu não sei o que eles vão me trazer. Se eu puder, a nossa intenção é sempre diminuir impostos e tarifas, mas existe uma questão do equilíbrio”, disse o prefeito (veja vídeo acima). Se o prefeito decidir manter o valor de R$ 5, a prefeitura vai ter que colocar mais dinheiro público no sistema em 2026. E esse aumento do subsídio, segundo o especialista em transportes Ciro Biderman - professor de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) – não incentiva a melhoria da qualidade do transporte na cidade. “O gargalo está no próprio subsídio. Porque você tem uma situação em que as empresas sabem que o que faltar dos custos será compensado ´[com recursos públicos]. Então, não tem tanto incentivo para puxar mais passageiros para o sistema e elas não se preocupam tanto [com qualidade]”, disse ao SP2. “Elas [as empresas] acabam perdendo passageiros porque os ônibus tão sempre atrasados, o passageiro fica esperando um tempão nos pontos. Eles conseguem garantir frota nova, mas não frequência. E por isso acabam perdendo passageiros e sabem que, mesmo assim, no final o subsídio vai compensá-los. Então, esse subsídio é muito perverso que acabou ficando em SP”, finalizou.

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