
Ceias fartas, encontros em família, brindes que se repetem. As festas de fim de ano costumam vir acompanhadas da sensação de que ganhar peso é inevitável e de que qualquer deslize pode “colocar tudo a perder”. Mas especialistas ouvidos pelo g1 explicam que essa lógica não corresponde ao que a ciência mostra sobre alimentação, metabolismo e ganho de peso. Em linhas gerais, não é uma ceia isolada que engorda, e sim a repetição de excessos ao longo de vários dias, muitas vezes combinada com menos movimento, pior qualidade do sono e consumo frequente de álcool. “Ganhar peso não é inevitável. O maior impacto vem da frequência dos exageros, não de uma refeição específica”, afirma a nutricionista Michele Lessa, disponível na plataforma Doctoralia. Peru da ceia de Natal é, na verdade, a fêmea da espécie Freepik/ Reprodução Erro clássico: tentar compensar antes da ceia Um dos comportamentos mais comuns — e menos eficazes — é passar o dia sem comer ou reduzir drasticamente as refeições para “compensar” o jantar festivo. Segundo a especialista, essa estratégia costuma ter o efeito contrário. “Chegar à ceia com fome excessiva aumenta a chance de exagerar, comer rápido e perder a percepção de saciedade”, explica Michele Lessa. O jejum prolongado eleva os hormônios ligados ao apetite e reduz a capacidade de fazer escolhas conscientes. CEO da Clínica Doutora Fit e pós-graduada em Nutrição Funcional, a nutricionista Sabrina Theil reforça que o melhor caminho é manter refeições equilibradas ao longo do dia. “Proteínas e fibras ajudam a estabilizar a glicemia e permitem aproveitar a ceia com mais moderação, sem culpa”, afirma. Outro ponto de atenção é o pensamento do “tudo ou nada”. Para quem tenta se controlar, exagerar nas restrições antes da festa ou tratar um deslize como fracasso total costuma levar a mais exageros depois. “O maior erro não é comer um pouco mais, mas entrar num ciclo de restrição, culpa e exagero”, explica Sabrina Theil. A consistência ao longo dos dias, segundo ela, é muito mais eficaz do que o controle rígido em momentos pontuais. Pavel Danilyuk/Pexels O principal vilão costuma ser o álcool Quando o assunto é ganho de peso nas festas, o álcool aparece de forma recorrente como fator central. Além de calórico, ele interfere nos mecanismos de saciedade e na tomada de decisão. “O álcool reduz o autocontrole alimentar, aumenta o apetite e favorece escolhas mais calóricas”, explica Michele Lessa. Outro efeito importante é metabólico: o organismo prioriza a metabolização do álcool, reduzindo temporariamente a queima de gordura. A médica nutróloga Andrea Pereira, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer, destaca que alternar bebida alcoólica com água ajuda justamente a reduzir o consumo total. Comer devagar é uma das receitas para manter o peso. Pixabay/Divulgação Ordem do prato, porção e atenção ao corpo A forma como a refeição é montada também faz diferença. Começar por saladas, legumes e proteínas favorece a saciedade antes dos pratos mais calóricos. Servir-se em porções menores, escolher o que realmente dá prazer e comer com atenção ajudam a reduzir excessos sem esforço. “Comer devagar, sem telas e respeitando os sinais do corpo aumenta a saciedade”, explica Andrea Pereira. A nutricionista Isis Helena, do Hospital Samaritano Higienópolis, da Rede Américas, reforça que não existe alimento vilão. “O que contribui para o ganho de peso são os exageros frequentes. Mesmo doces e salgados podem fazer parte da ceia, desde que em quantidades adequadas”, afirma. Caminhar, dançar ou se manter ativo durante as festas não “apaga” excessos, mas tem efeito protetor. “O movimento melhora a sensibilidade à insulina, ajuda na digestão e reduz parte do impacto metabólico”, explica Michele Lessa. Para Andrea Pereira, o fim do ano é um bom momento para atividades recreativas, como caminhar ao ar livre ou nadar. “O importante é não ficar parado”, diz. Crédito: Divulgação Quem precisa de atenção extra Pessoas com sobrepeso, obesidade ou doenças como diabetes precisam de cuidado redobrado — não com restrições extremas, mas com previsibilidade. Evitar jejuns longos, manter horários regulares, moderar o álcool e respeitar o uso correto de medicações são pontos-chave. “Doenças crônicas não tiram férias”, diz Andrea. Exageros pontuais costumam provocar apenas variações temporárias na balança, muitas vezes ligadas à retenção de líquidos. Para que haja ganho real de gordura, é necessário um excesso calórico consistente e prolongado. “Saúde é construída no conjunto dos dias, não em refeições isoladas”, conclui Isis Helena.
