Bolsonaro passa por cirurgia de hérnia inguinal nesta quinta; entenda o problema e como é o tratamento

Published 3 hours ago
Source: g1.globo.com
Bolsonaro passa por cirurgia de hérnia inguinal nesta quinta; entenda o problema e como é o tratamento

Hérnia inguinal e umbilical: entenda as causas, diferenças e como tratar O ex-presidente Jair Bolsonaro passa por uma cirurgia eletiva de hérnia inguinal bilateral nesta quinta-feira (25); ele está internado desde quarta-feira (24). O procedimento foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, depois de avaliação médica da Polícia Federal, que apontou a necessidade de correção cirúrgica para evitar o agravamento do quadro. A seguir, o g1 explica o que é a hérnia inguinal, quando a cirurgia é indicada, quais técnicas podem ser usadas e por que, apesar da internação, o caso não foi classificado como urgência médica. Jair Bolsonaro será operado nesta quinta-feira (25) Jornal Nacional/ Reprodução O que é a hérnia inguinal A hérnia inguinal —também chamada de hérnia na virilha— ocorre quando tecidos do interior do abdômen, geralmente uma alça do intestino, escapam por um ponto enfraquecido da parede abdominal e formam um abaulamento na região. Quando esse deslocamento acontece dos dois lados da virilha, a condição recebe o nome de hérnia inguinal bilateral. Ela pode causar inchaço, dor ou desconforto, sobretudo ao fazer esforço, tossir ou permanecer muito tempo em pé, embora em alguns casos seja assintomática. De acordo com os peritos que analisaram o caso, não há indicação, nos relatórios médicos, de cirurgia em caráter de urgência ou emergência. “O que, exatamente, é uma hérnia? É um defeito na parede abdominal”, explica Pedro Bertevello, cirurgião do aparelho digestivo da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Segundo ele, essa fragilidade pode existir desde o nascimento, em pessoas que já têm uma predisposição anatômica, ou surgir ao longo da vida, especialmente após cirurgias abdominais —sobretudo aquelas feitas em caráter de urgência. Para entender o processo, é preciso imaginar a parede abdominal como uma estrutura em camadas. Primeiro vem a pele, depois a gordura, a musculatura e, logo abaixo, uma membrana resistente chamada aponeurose, que funciona como uma espécie de “armadura” para conter as vísceras. Atrás dessa estrutura está o peritônio, uma película fina e lubrificada que reveste o interior do abdômen e permite que o intestino se movimente livremente. Esse movimento constante é essencial para a digestão e ocorre mesmo em ações simples do cotidiano, como caminhar, respirar ou mudar de posição. O problema começa quando essas camadas são rompidas, seja por cirurgias anteriores, seja por traumas. A cicatrização interna pode gerar aderências, que fazem com que alças do intestino se “colem” entre si ou à parede abdominal. Com o tempo, isso enfraquece a aponeurose e cria brechas por onde o intestino pode se projetar. Em alguns casos, a alça intestinal entra nesse espaço e não consegue retornar à cavidade abdominal —situação chamada de encarceramento. Na hérnia inguinal, essa projeção ocorre na região da virilha e pode, em situações mais avançadas, descer em direção ao escroto. Por que cirurgias prévias pesam no quadro Quando o abdômen já foi muito manipulado cirurgicamente, as aderências e as fibroses internas tornam a região mais rígida e irregular. Isso dificulta tanto a circulação normal do intestino quanto sua acomodação dentro da cavidade abdominal, aumentando o risco de surgimento de hérnias ao longo do tempo. Esse histórico também pode interferir no funcionamento do sistema digestivo como um todo. O trato gastrointestinal funciona como um tubo contínuo —da boca ao ânus— e alterações no trânsito intestinal podem provocar reflexos em outras regiões, inclusive no diafragma. Hernia inguinal Arte/g1 Cirurgia de hérnia: como é feita A correção da hérnia inguinal pode ser realizada por videolaparoscopia ou por cirurgia aberta, a depender da complexidade do caso e do histórico do paciente. Na videolaparoscopia, o cirurgião utiliza uma câmera para acessar a cavidade abdominal, solta as aderências internas, recoloca o intestino no lugar correto e aplica uma tela de malha que reforça a aponeurose. Essa tela funciona como uma costura interna: com o tempo, o organismo forma uma fibrose ao redor dela, impedindo que o intestino volte a se projetar. Já a cirurgia aberta, mais comum em casos complexos ou em pacientes com múltiplas cirurgias prévias, permite ao cirurgião liberar manualmente as alças intestinais, reforçar os músculos e a aponeurose e, se necessário, também implantar uma tela para dar maior sustentação à parede abdominal. Em termos simples, explica o cirurgião cardiovascular Ricardo Katayose, cirurgião cardiovascular da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, hérnia pode ser comparada a uma porta que se abriu em um ponto enfraquecido da parede abdominal. Parte do intestino passou por essa fresta. A cirurgia devolve esse conteúdo para dentro da cavidade e fecha a “porta” de forma segura. “Quando o abdômen nunca foi operado, o paciente pode ser tratado tanto por videolaparoscopia quanto por cirurgia convencional. É um procedimento relativamente simples: o paciente interna, opera e, geralmente, recebe alta no dia seguinte”, explica Bertevello. Depois da cirurgia, a recomendação costuma ser de cerca de uma semana de repouso relativo e aproximadamente 30 dias sem fazer esforço ou carregar peso. Hérnia e soluços: há relação? Os peritos também analisaram os episódios de soluços persistentes relatados por Bolsonaro. Segundo a avaliação médica, o bloqueio do nervo frênico —procedimento que reduz temporariamente a atividade do nervo responsável pelo controle do diafragma— é uma medida tecnicamente adequada e deve ser realizada o quanto antes. É um procedimento feito com anestesia local, geralmente guiado por ultrassom, no qual um medicamento é aplicado próximo ao nervo para interromper soluços persistentes. Ele é indicado apenas quando os soluços não respondem a tratamentos convencionais e causam impacto clínico relevante. De acordo com Bertevello, não há relação direta entre a hérnia inguinal e o soluço. “O soluço surge quando o estômago não esvazia bem ou quando há irritação do diafragma”, explica. No caso específico do ex-presidente, o médico afirma que o quadro pode estar associado a refluxo gastroesofágico e à presença de hérnia de hiato — uma condição diferente, em que parte do estômago sobe para o tórax, irritando o esôfago e estruturas próximas ao diafragma. Por fim, o cirurgião ressalta que hérnia inguinal e hérnia de hiato não têm relação entre si: ambas envolvem deslocamento de tecidos, mas ocorrem em regiões distintas do corpo e têm causas e consequências diferentes.

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