
Terminou no início da tarde desta quinta-feira (25) a cirurgia para o tratamento de uma hérnia inguinal bilateral no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O procedimento foi pedido pela defesa e autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na terça-feira (22). A operação durou cerca de 3h30. Segundo a equipe médica, o procedimento transcorreu dentro do previsto e sem intercorrência. O ex-presidente já está no quarto. "Procedimento cirúrgico realizado hoje transcorreu de acordo com o previsto, que foi uma hernia inguinal bilateral dos dois lados, então o presidente tinha uma hérnia do tipo mista, direta e indireta e foi corrigida", explicou o médico cirurgião Cláudio Birolini em entrevista a jornalistas. "Foi feita um reforço da parede abdominal e foi colocada uma tela de material plástico", completou. Ele acrescentou que os cuidados nos próximos dias serão voltados a analgesia, fisioterapia, dentre outros procedimentos e que o tempo de recuperação será de cinco a sete dias. Já o procedimento para corrigir os soluços deve ser feito na próxima segunda-feira (29). De acordo com o cardiologia Brasil Caiado, que acompanha Bolsonaro, a decisão visou otimizar o tratamento. "Nós optamos por questões de precaução otimizar o tratamento clínico, melhorar a dieta, potencializar toda a medicação e observar nesses próximos dias a necessidade ou não desse procedimento, provavelmente nós o faremos na segunda-feira, que é o tempo para ele responder a medicação", afirmou. "Nós, inicialmente, tínhamos proposto um bloqueio do nervo, mas, estando mais próximo do presidente agora e observando que tenha uma relação direta talvez com o tubo digestivo, uma esofagite severa que ele tem, associada a gastrite e refluxo gastresofágico", explicou. A companheira do ex-presidente, Michelle Bolsonaro, comemorou o "sucesso" da cirurgia pelas redes sociais. "Cirurgia finalizada com sucesso. Sem intercorrências. Agora é aguardar o retorno da anestesia". O ex-presidente cumpre pena de 27 anos e 3 meses em regime fechado por tentativa de golpe. Ele está preso na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Brasília. Após uma perícia médica foi constatada a necessidade de realizar uma cirurgia em Bolsonaro. Veja mais: entenda o que é hérnia inguinal e os tratamentos possíveis O ex-presidente foi transferido da superintendência para internação no Hospital DF Star em Brasília na quarta (23). O que é hérnia inguinal? A hérnia inguinal (também chamada hérnia na virilha) acontece quando os tecidos do interior do abdómen saem por um ponto fraco da parede muscular abdominal formando uma espécie abaulamento no local. Quando isso ocorre dos dois lados, ela é chamada de bilateral. A hérnia inguinal bilateral pode causar inchaço, dor ou desconforto, especialmente ao fazer esforço, tossir ou ficar muito tempo em pé — embora às vezes seja assintomática. Os peritos também analisaram o quadro de soluços de Bolsonaro, uma das principais queixas de saúde do ex-presidente, e avaliaram que o bloqueio do nervo frênico é uma medida tecnicamente adequada e deve ser feito o quanto antes. 🔎 Bloqueio do nervo frênico: é um procedimento que reduz temporariamente a atividade do nervo que controla o diafragma, ajudando a interromper soluços persistentes. Ele é feito com anestesia local, por meio da aplicação de um medicamento próximo ao nervo, geralmente guiada por ultrassom. O procedimento é indicado apenas quando os soluços não respondem a tratamentos comuns e causam impacto clínico relevante. Infográfico mostra hérnia de Bolsonaro Editoria de Arte/g1; Pablo Porciuncula/AFP Contexto do ex-presidente O médico Ricardo Katayose, cirurgião cardiovascular da BP, explicou ao g1 que, para entender a hérnia, é preciso imaginar como essa parede abdominal da virilha é construída. 🔎 O médico explica que o abdômen não é um espaço vazio: ele é formado por camadas sobre camadas — primeiro a pele, depois a gordura, em seguida a musculatura, e logo abaixo uma membrana rígida chamada aponeurose, que funciona como uma espécie de “armadura” para proteger as vísceras. Atrás dessa camada de tecido existe o peritônio, uma película fina e lubrificada que reveste a parte interna do abdômen e permite que o intestino se mova livremente, sem atrito. Isso é essencial porque o intestino está sempre em movimento para empurrar os alimentos durante a digestão, e até ações simples do dia a dia — como caminhar, respirar ou mudar de posição — ajudam esse funcionamento natural. O problema começa quando essas camadas são rompidas, seja por cirurgias anteriores, seja por traumas. Toda vez que uma intervenção atravessa essas camadas, o corpo forma cicatrizes internas, chamadas aderências. Elas podem fazer com que uma alça do intestino “grude” na outra ou se cole à parede abdominal. Essas aderências podem alterar o trânsito intestinal e, com o tempo, enfraquecer a aponeurose. Como essa membrana é uma das principais estruturas que limitam o espaço onde o intestino deve ficar, qualquer perda de resistência ali facilita que ele avance para fora. No caso das hérnias, é exatamente isso que acontece. O intestino procura qualquer brecha e ocupa aquele espaço. Às vezes, ele entra, mas não consegue sair — é o chamado encarceramento. É como se a alça passasse por um anel apertado: ela escapa, mas depois fica presa, incapaz de retornar à cavidade abdominal. Na hérnia inguinal, essa projeção acontece no assoalho pélvico e pode até descer em direção ao escroto. Quando o abdômen já foi muito manipulado, como no caso do ex-presidente, as aderências e as fibroses tornam a região mais rígida e irregular. Isso dificulta tanto a circulação normal do intestino quanto sua acomodação dentro da cavidade, o que pode contribuir para sintomas como soluços persistentes. O sistema digestivo funciona como um tubo contínuo — da boca ao ânus — e qualquer prejuízo no trânsito intestinal pode gerar reflexos a distância, inclusive na região do diafragma, onde o soluço é desencadeado.
