
Aos 22 anos, militar entra para a história ao ser a 1ª mulher a concluir curso no Pantanal Aos 22 anos, a militar Maria Júlia se tornou a primeira mulher a concluir o Curso de Operações no Pantanal, da Marinha do Brasil, em 36 anos de existência da formação. O treinamento terminou neste ano, em Ladário (MS), após quase dois meses de atividades intensas no bioma pantaneiro, e prepara combatentes para atuar em áreas ribeirinhas e de difícil acesso. Veja vídeo acima. Em meio às áreas alagadas e à vegetação do Pantanal, militares passaram por um treinamento rigoroso promovido pelo 6º Distrito Naval, em Ladário. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp Dos 49 habilitados, 23 concluíram a formação, que prepara combatentes para atuar em ambientes ribeirinhos, com foco em navegação, patrulhas, combate e sobrevivência em situações extremas. Maria Júlia também faz parte da segunda turma de mulheres que ingressaram na Marinha do Brasil como fuzileiros navais. O interesse pela carreira começou ainda na infância. “Então, eu sempre tive um apreço muito grande pelos fuzileiros navais porque eu lembro de quando eu era pequenininha, eu vi um filme americano e aí no filme falava dos fuzileiros, né? Tinha uma militar de sexo feminino lá muito braba e eu falei: caraca, um dia eu quero ser igual a ela.” Ao crescer, ela conta que descobriu que, por muito tempo, não havia espaço para mulheres atuarem como combatentes. “Aí eu dei uma murchadinha assim.” A mudança veio quando a Marinha abriu, pela primeira vez, concurso para mulheres na carreira de fuzileiro naval. “Por sorte, quando eu estava estudando para concurso, foi a época que abriu a primeira prova para o Fuzileiro Naval para a Mulher, e aí era meu último ano, né, por conta da idade. Então, eu não perdi a oportunidade.” Na família, Maria Júlia é a primeira mulher militar. “Eu sou a primeira militar de sexo feminino na família, tanto por parte de mãe quanto por parte de pai.” Treinamento intenso e superação O curso exigiu preparo físico, psicológico e operacional. Segundo a militar, os momentos mais difíceis foram as atividades aquáticas e as marchas. “Acho que o curso foi bastante difícil, foi bastante puxado. Acho que as coisas mais difíceis para mim no curso foram as marchas e a água. A água também doeu bastante para mim no curso, tanque tático, piscina, doeu bastante.” Durante o treinamento, ela afirma que o tratamento foi igualitário entre homens e mulheres. “No curso, assim, no tratamento, era tudo de igual para igual. Lá não tinha essa de você é homem, você é mulher. Todo mundo era aluno.” A decisão de raspar o cabelo Um dos momentos marcantes foi a escolha de raspar o cabelo durante o curso. A decisão, segundo Maria Júlia, foi estratégica. “Pensando no curso, pensando no que eu fui fazer lá, a melhor decisão que tinha no momento era raspar o cabelo, até porque me atrapalharia muito no curso e me diferenciaria muito dos homens.” Ela afirma que a escolha ajudou a seguir o treinamento. “Eu optei por raspar o cabelo para não me prejudicar no curso e para ficar igual a eles.” O reconhecimento e a placa histórica Ela demorou a entender que estava entrando para a história do 3º Batalhão de Operações Ribeirinhas. “Quando eu percebi que estava fazendo história por ser a primeira mulher a concluir o curso, foi só no dia da formatura mesmo.” Ao ouvir o discurso do comandante, veio a confirmação. “Ali a ficha caiu, tipo: nossa, consegui, estou me formando. Finalmente chegou o meu momento, eu consegui entrar para a história.” A sensação de ver o nome na placa foi descrita como única. “A sensação de ser a única mulher, ter o nome na placa, foi muito boa. Fazer parte da história está sendo muito bom, está sendo maravilhoso. É uma sensação inexplicável.” Inspiração para outras mulheres Depois da formatura, Maria Júlia passou a receber mensagens de militares e civis. “Recebi muitas mensagens, não só de mulheres, mas de homens também.” Para ela, o impacto vai além da conquista individual. “Saber que eu estou ajudando muitas meninas, mostrando que somos capazes, que é só treinar, que dá pra fazer, que dá pra gente chegar lá mesmo com os outros duvidando, é uma sensação inexplicável.” Militar Maria Júlia, de 22 anos. Reprodução Veja vídeos de Mato Grosso do Sul:
