
A economia circular é parte intrínseca da operação da empresa, que valoriza fornecedores locais Divulgação A busca por soluções sustentáveis, tão amplamente debatida durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que aconteceu em Belém-PA entre os dias 10 e 21 de novembro, permeia vários setores industriais no Brasil. São iniciativas para mitigar impactos ambientais e fortalecer a economia circular, sem perder o foco na capacidade de produção. No setor de óleos vegetais e saneantes, a Mil Select, localizada em Nilo Peçanha, Baixo Sul da Bahia, tem se destacado positivamente com seu modelo de negócio. A fábrica transforma os frutos do dendezeiro, abundantes no estado, em produtos alimentícios, com aproveitamento integral da matéria-prima e seus derivados, resultando em quase zero resíduos finais. Um bom exemplo é o dendê. Depois de extraído o azeite de dendê, com seu aroma e cores marcantes, que dão notas de sabor e tornam a culinária regional baiana algo único, os resíduos provenientes da matéria-prima são transformados e ganham um novo valor. A fibra e a “bucha” do dendê são utilizadas pela própria fábrica como fonte de energia térmica, transformando-se em combustível para o funcionamento das caldeiras, que geram o vapor essencial para o processo produtivo. Já a casca do coco do dendê é transformada em carvão ativado, um novo produto de alto valor agregado. O farelo, adquirido a partir do coco do dendê, é reaproveitado como ração animal, contribuindo para a cadeia agropecuária. E a água, resultante do processo de debulha (onde o dendê é cozido para se separar o fruto do cacho), é tratada e doada para agricultores locais, que a utilizam como adubo orgânico, enriquecendo o solo de forma natural. “Subprodutos específicos são regularmente doados para pesquisas em universidades e faculdades, impulsionando também a inovação e o conhecimento científico. Essa abordagem não é apenas um projeto, mas sim a essência da nossa operação, com uma economia circular real e um compromisso inabalável com o meio ambiente”, acrescentou Lorena Freire, CEO da Mil Select. Em seu modelo de negócio, a Mil Select trabalha com aproveitamento integral do dendê e seus derivados Divulgação Modelo de negócio No modelo de negócio desenvolvido pela Mil Select, em todas as etapas do processo produtivo são aplicadas estratégias pautadas na sustentabilidade e na economia circular. Para a fabricação dos seus mais de 116 tipos de produtos, entre alimentícios, saneantes e automotivos, 75% de toda a matéria-prima é adquirida diretamente de fornecedores dentro do estado. “Não possuímos produção própria de matéria-prima. Todo o nosso insumo é comprado principalmente de fornecedores locais, que é uma forma de garantirmos a qualidade dos nossos produtos, mas também conscientes de nossa contribuição para a cadeia produtiva e a economia regional”, pontuou. No chão de fábrica, além da fibra do dendê que se transforma em fonte de energia térmica, há alguns anos a empresa migrou para o mercado livre de energia, onde adquire energia elétrica de fontes 100% renováveis. “Dessa forma, combinamos a eficiência do aproveitamento da fibra do dendê para geração de vapor com a aquisição de energia elétrica limpa, reforçando nosso compromisso com a redução das emissões de carbono e a otimização dos recursos”. Outra medida importante foi a implantação de uma unidade própria de sopro de garrafas, onde são fabricadas as embalagens PET para envasamento da produção. A empresa utiliza o PET reciclável, com redução da gramatura do plástico, o que diminui o impacto ambiental de cada embalagem. Cerca de 95% da produção de embalagens é destinada ao consumo interno, atendendo à linha de produtos alimentícios, automotivos, higiene e limpeza. Os outros 5% representam um potencial para uma futura comercialização. “Reconhecemos que o Brasil ainda enfrenta desafios na conscientização e na infraestrutura de coleta seletiva, mas ao produzir nossas embalagens com foco em reciclabilidade e menor uso de material, contribuindo ativamente para um ciclo de vida mais sustentável da embalagem”. Edemario Freire com suas filhas Gorena e Lorena (CEO da Mil Select) Divulgação Economia circular Com 30 anos de operação em 2025, Lorena conta que atuar com foco na economia circular não foi um conceito planejado pela empresa. Ainda nos primeiros anos de fundação, a fábrica enfrentou desafios significativos na região, como dificuldade em dar um destino adequado aos resíduos do processo produtivo, bem como pela carência de instituições ou pessoas qualificadas para o reaproveitamento desses materiais. A empresa começou então a desenvolver internamente os processos para o aproveitamento integral dos subprodutos. Como resultado, além de benefícios imediatos, a exemplo de uma melhor mobilidade no pátio da fábrica, observou-se, em um curto prazo, uma separação seletiva de forma eficiente e a redução drástica dos custos com descarte. “Hoje, a economia circular é parte intrínseca da nossa operação. Sua importância para a região é imensa: ela demonstra que a sustentabilidade não é apenas uma questão ambiental, mas também um vetor de rentabilidade, inovação e desenvolvimento local”, elencou. “Ao transformar resíduos em novos produtos ou insumos, geramos valor, otimizamos recursos e inspiramos outras empresas e a comunidade a adotarem práticas mais conscientes. É a prova de que, com criatividade, é possível construir um modelo de negócio que beneficia a empresa, o meio ambiente e a sociedade”, concluiu.
